Homens invisíveis: relatos de uma humilhação social
2005; Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (ANPAD); Volume: 9; Issue: 1 Linguagem: Português
10.1590/s1415-65552005000100014
ISSN1982-7849
Autores Tópico(s)Urban and sociocultural dynamics
ResumoJa ha algum tempo contribuicoes teoricas interessantes para os pesquisadores da area de Administracao tem vindo de outros campos do conhecimento, como a Psicologia, a Sociologia e a Antropologia, so para ficar em alguns. Mais uma vez isso ocorre com Homens Invisiveis: Relatos de uma Humilhacao Social , de Fernando Braga da Costa, fruto da sua dissertacao de Mestrado defendida no Instituto de Psicologia da Universidade de Sao Paulo. E um livro interessante, que pode ser recomendado a alunos de cursos de graduacao e de pos-graduacao nas areas de Gestao de Pessoas, Relacoes de Trabalho e Estudos Organizacionais, particularmente os que trabalhem poder e simbolismo nas organizacoes. Apoiado inicialmente nos estudos de Simone Weil sobre a opressao entre os operarios (WEIL, 1996), esta obra tem o merito de trazer a tona, com uma argumentacao forte, e por vezes apaixonada, a questao da desigualdade e exclusao dos individuos. Ao longo de quatro capitulos (Introducao, O lugar, As Condicoes Materiais de Trabalho, e No pe da serra de Petropolis), o autor se debruca sobre um fenomeno muito interessante: o desaparecimento simbolico de individuos pobres com profissoes que nao exigem qualificacao escolar ou tecnica. O que chamou a atencao do entao estudante de psicologia sobre a invisibilidade simbolica dos garis da cidade universitaria da USP se deu quando ele, vestido como eles, nao foi enxergado por amigos, colegas e professores que haviam estado com ele apenas algumas horas antes. Por que ao usar um uniforme ele desapareceu ? Para responder a esta, entre inumeras questoes, ele desenvolveu sua dissertacao de mestrado, estando, atualmente, no doutorado em Psicologia Social da mesma instituicao. Uma observacao mais acurada do texto nao deixa escapar que os principais problemas sao de cunho metodologico, nebulosos ao considerarmos o tom argumentativo adotado. Em que pese que e provavel que tenha havido uma orientacao editorial, a fim de que a obra fosse mais comercial , a carencia de maiores informacoes lanca duvidas sobre o teor das analises e conclusoes. O autor nos informa de que a investigacao foi conduzida por meio de um estudo etnografico realizado em dois niveis: investigacao participante de uma modalidade de trabalho nao-qualificado e subalterno (trabalho de garis) e investigacao do encontro do pesquisador com trabalhadores pobres. Contudo, ha poucos esclarecimentos a respeito de como se deu o processo de insercao naquele grupo especifico, bem como os recursos utilizados para coleta e interpretacao dos depoimentos, o que, do ponto de vista cientifico, enfraquece o trabalho como um todo. Alem disso, o que salta aos olhos e que o pesquisador nao conseguiu escaparde uma armadilha comum em estudos etnograficos (GUIMARAES, 1990): deixouse encantar pelo seu objeto de estudo, os garis. O evidente envolvimento afetivo e manifesto na adocao de uma linguagem que chega a surpreender os leitores acostumados a um certo distanciamento analitico e comedimento no uso das palavras e adjetivos. Em alguns momentos, os argumentos usados chegam a ser quase panfletarios, soando como uma especie de ideologia da humanizacao das atividades profissionais, aparentemente a ser iniciada pelos garis. Esses problemas, contudo, nao ofuscam os meritos deste livro. Os depoimentos coletados sao riquissimos porque permitem que entendamos o lado de la de profissoes pouco qualificadas, de um ponto de vista parcial, sem duvida, mas provocativo. A postura corajosa do autor tambem e interessante porque pode inspirar a elaboracao de textos cientificos menos ortodoxos na area de Administracao, menos preocupados com a obediencia a um formato padrao - que transforma em marginais iniciativas inovadoras em termos de metodo, linguagem e construcao teorica e analitica. Um outro destaque e o posicionamento humanista do autor, que pode garantir momentos de reflexao para nos, estudiosos do mundo organizacional, que em diversos momentos, por termos o olhar na organizacao e suas multiplas dimensoes, desumanizamos um pouco nossa analise para fazer ciencia - o que e um contra-senso se pretendemos encarar as organizacoes de forma sistemica, com os homens em seu devido lugar.
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