Artigo Revisado por pares

Deus, deuses e deus ex machina n'os Lusiadas e na ficcao contemporanea de Jorge Amado

1985; American Association of Teachers of Spanish and Portuguese; Volume: 68; Issue: 4 Linguagem: Português

10.2307/341972

ISSN

2153-6414

Autores

Bobby J. Chamberlain,

Tópico(s)

Linguistics and Language Studies

Resumo

cerem solu6oes extraterrestres aos problemas mundanos, desde os autos de Gil Vicente at6 os de Ariano Suassuna, desde a novelistica cavaleiresca de Joao de Barros e contemporaneos at6 O0 Mandarim de Ega ou o Macunaima de Mairio de Andrade.' Uma das quest6es mais fascinantes e, ao mesmo tempo, enigmaiticas d'Os Lusiadas' de Luis Vaz de Cam6es sempre tem sido a fungao dentro da epop6ia da mitologia grecoromana, bem como a relagao desta com a doutrina crista tamb6m presente. Alguns criticos citam o papel unificador dos apaixonados deuses olimpicos dentro do poema, notando que a sua intervengao, com freqiiencia a maneira de dei ex machina, tende a imprimir 'a obra a forga dramaitica ausente no enredo hist6rico.4 Outros mencionam a funaio ir6nica da mitologia. E outros ainda observam a inc6moda coexistencia do maravilhoso pagao com o cristao,5 chegando, em alguns casos, a afirmar a predominincia do elemento classico. Seja como for, todos parecem concordar em que as atua?6es de VWnus, Baco, T6tis e outras divindades antropom6rficas na vida de Gama e tripulantes sho de suma importincia para a obra, porquanto a dotam de maior alento e humanidade. No tempo atual, pode-se encontrar semeihante emprego literirio do sobrenatural naocristao em alguns romances do brasileiro Jorge Amado. Este substitui, por6m, a mitologia clissica pelas divindades afro-brasileiras de origem iorubana. Assim, orixds como Xang6, Oxali, Ogum, Exu e Iemanjai manifestam-se no dia-a-dia dos personagens amadianos, como a concorrerem com os santos do catolicismo oficial, ora socorrendo os devotos, ora atrapalhando os descrentes, ora apenas se distraindo com os absurdos da existencia mortal. Assim, como na epop6ia camoniana, o maravilhoso chega, is vezes, a desempenhar uma funyao unificadora. Interv6m a maneira de deus ex machina, possui normalmente fins ir6nicos e humoristicos e quase que sempre consegue ofuscar a presenga do elemento religioso cristao. Finalmente, a intrusao milagrosa do sobrenatural na fic?ao amadiana parece constituir amidide uma esp6cie de realizayao simb61lica dos desejos coletivos dos personagens. Encarada sob esse aspecto, dirse-ia que exerce tamb6m uma fungao social.6 O objetivo da presente comunica?ao 6 analisar mais detalhadamente o papel do sobrenatural nos dois autores, ambos representantes de suas respectivas eras, deixando de lado quaisquer diferengas de g6nero, temperamento, ideologia ou est6tica que existirem, assim como as 6bvias discrepancias cronol6gicas e geogrificas. Pretende-se, portanto, focalizar nao s6 a presenga de elementos do divino cristao e nao-cristao num e noutro escritor, bem como as tecnicas por eles utilizadas, mas tamb6m as raz6es de tal presenga na medida em que puderem concorrer para o maior esclarecimento do papel do fantaistico nos dois momentos literhrios, Espera-se, destarte, adumbrar tamb6m algumas fun?6es do sobrenatural na literatura em geral.

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