
Handbook de estudos organizacionais. Volume 2: reflexões e novas direções
2002; Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (ANPAD); Volume: 6; Issue: 3 Linguagem: Português
10.1590/s1415-65552002000300014
ISSN1982-7849
Autores Tópico(s)Business and Management Studies
ResumoSeria interessante comecar a resenha com a pergunta: Porque se escrevem Handbooks? Trata-se de pratica comum no mundo academico de lingua inglesa e se estende as diversas areas de conhecimento. O primeiro Handbook of Organizations foi organizado por James March e publicado em 1965. Trinta e um anos se passaram e os organizadores do Handbook de Estudos Organizacionais fizeram questao de frisar que nao se pretendia uma nova versao ou atualizacao do Handbook de James March, mas que se objetivava algo diverso, fora do mainstream norte-americano.Uma primeira razao e fazer um resgate do campo e simultaneamente reafirmar sua existencia e relevância. Outra questao importante e de natureza epistemologica, ou seja, saber se houve acumulacao de conhecimento e, em caso afirmativo, quais os padroes ou caminhos trilhados. Igualmente importante e atentar ao conteudo do campo, a saber, as areas ou linhas, topicos ou issues de interesse em pontos diferentes no tempo. Pode haver surpresas e se constatar que assuntos que eram muito abordados no passado desapareceram ou simplesmente perderam em numero de interessados. Seria o caso de se ver o interesse por abordagens gerencialistas (managerial) e de tipo funcional burocratico nos anos sessenta e setenta e o declinio relativo nos dias atuais. Por outro lado grande numero de topicos novos surgiram e se firmaram. E o caso do amplo campo coberto com o nome generico de Simbolismo Organizacional e que inclui coisas tao diversas e sem abordagem organizacional ha 30 ou 40 anos como inconsciente, sexo, genero, estetica, cultura etc.Desta forma um Handbook permite que nos posicionemos diante de um campo e tambem no interior dele. Desta forma e possivel ver o que foi feito, o que foi abandonado e o que resta por fazer com as linhas de trabalho mais interessantes e relevantes a serem perseguidas. Um Handbook e tambem de inegavel utilidade a qualquer estudioso de organizacoes, independentemente do ponto em que se encontre de sua carreira. Serve como insumo para critica e reflexao e tambem como fonte importante de informacao.O texto aqui revisto e o segundo volume do original que apareceu em lingua inglesa em 1996 e que os organizadores brasileiros e a Editora Atlas optaram por dividir em tres volumes. O terceiro esta prometido para breve e o segundo contem 9 capitulos e 7 Notas Tecnicas escritas por autores brasileiros. O volume contem uma introducao e 4 partes. A introducao contem apenas um capitulo que trata das relacoes entre teoria e pratica e tem o sugestivo titulo de A Coruja de Minerva: Reflexoes sobre a Teoria na Pratica. As demais partes tratam de Conducao da Pesquisa, Novos Objetos de Estudo, Teorizando sobre a Teoria e a ultima parte contem as Conclusoes. Na parte referente a pesquisa ha dois capitulos, um sobre Dados em Estudos Organizacionais e outro sobre Pesquisa-Acao. Na segunda parte os novos objetos de estudo contemplados sao a Exploracao do Lado Estetico da Vida Organizacional, A Emocao e o Processo de Organizar e As Imagens do Tempo no Trabalho e na Organizacao. A terceira parte, na qual se teoriza sobre a teoria, contem dois capitulos, Jogos de Guerra da Cultura Organizacional: a Luta pelo Dominio Intelectual e Alguns Ousam Chama-lo Poder, e finalmente um capitulo conclusivo sobre Representacao.A revisao de cada um dos capitulos seria tarefa descabida numa resenha com esta extensao. Alem do mais, certamente nao poderia ser realizada em profundidade por um unico autor, dada a diversidade de assuntos e a amplidao demandada de competencias. O segundo volume contem capitulos que se ocupam de assuntos e temas coerentes com a proposta do Handbook de ser um texto alternativo ao mainstream norte-americano ainda predominantemente realista, objetivista e funcionalista e marcado por pressoes e preocupacoes gerencialistas com suas expectativas subjacentes de aplicabilidade.Portanto limitar-me-ei a algumas observacoes sobre alguns conteudos. Interessante e a introducao de um capitulo sobre pesquisa-acao. O assunto e escassamente conhecido no pais e seu potencial e muito grande, particularmente porque permite lancar uma ponte entre a teorizacao e a pratica, especialmente a que se realiza por meio da consultoria. A dimensao estetica das organizacoes e entre nos assunto quase completamente ignorado. Trata-se tambem de tema de fronteira no mundo organizacional, dai a oportunidade do capitulo de Pasquale Gagliardi e da nota tecnica de Thomaz Wood. Os estudos organizacionais tem tratado organizacoes como realidades instrumentais e portanto focadas em objetivos, resultados, eficiencia, objetividade etc. A dimensao estetica pode ser entendida tanto como expressao de realidades organizacionais, servindo ao analista como forma de penetracao e entendimento de outras dimensoes da organizacao, como manifestacao da expressividade humana. O ser humano nao se manifesta apenas por meio de eficiencia e racionalidade, mas tambem pela construcao de formas voltadas ao deleite e ao choque estetico e que nao se vinculam normalmente aos eixos predominantemente economicos e tecnologicos de nossa cultura. O capitulo de John Hassard sobre o tempo no trabalho e nas organizacoes nos apresenta outra dimensao na consideracao do assunto, que transcende o tratamento puramente gerencialista que ate o momento se centrou em tratar o tempo como algo objetivo e linear, portanto escasso, sendo elemento cujo dominio e controle e essencial a eficacia pessoal. A colocacao do tempo no contexto da cultura e como elemento constitutivo desta mesma cultura abre novas portas. O tratamento dado a analise cultural de organizacoes (Jogos de Guerra da Cultura Organizacional: a Luta pelo Dominio Intelectual) e ao poder (Alguns Ousam Chama-lo de Poder) fecha o circulo do que ha de mais caracteristico na abordagem do Handbook. Sao os textos que carregam marcas nitidas de pos-modernismo na maneira de focar o tema. Senti isto mais de perto no capitulo de Stewart R. Clegg e Cynthia Hardy sobre o poder, em que se tenta ultrapassar os tratamentos fundamentalmente weberianos, marxistas e funcionalistas do poder que marcaram ate o momento a literatura organizacional. Finalmente chegamos ao ultimo e denso capitulo sobre representacoes, que deveria ser colocado ao final do Handbook e nao como fecho do seu segundo volume. Tenta na verdade tracar um amplo pano de fundo como forma de reorganizar o campo a partir de uma nova perspectiva.O segundo volume junta-se ao primeiro, publicado em 1999, e que deverao ser completados pelo terceiro, a ser publicado no segundo semestre de 2002. Atentar para o tempo transcorrido entre o texto original, 1996, e a conclusao da edicao brasileira. Autores, tradutores, revisores e organizadores podem ser equitativamente responsabilizados pelo atraso. Mas nao e o caso de se cacarem bruxas. O Handbook traz novas perspectivas e tambem nos coloca diante de um fato preocupante: a lacuna de conhecimentos das diversas ciencias sociais necessarias ao entendimento do que se fez no ultimo quarto de seculo.
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