Artigo Acesso aberto Produção Nacional

Fala fictícia fossilizada: o tempo futuro em Aikanã

2013; MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI; Volume: 8; Issue: 2 Linguagem: Português

10.1590/s1981-81222013000200009

ISSN

2178-2547

Autores

Hein van der Voort,

Tópico(s)

Linguistics and Discourse Analysis

Resumo

O Aikanã, língua indígena geneticamente isolada do sul de Rondônia, tem uma maneira de expressar o tempo futuro verbal que é, à primeira vista, algo surpreendente. A construção, que é obrigatória para o tempo futuro, envolve, além de um morfema de futuro (-re-, ou futuro remoto -ta-), sempre um morfema da primeira pessoa (seja singular ou plural), independente de o verbo estar flexionado para pessoa (seja primeira ou não). Consequentemente, o tempo futuro em Aikanã sempre envolve dois marcadores pessoais no verbo, que correspondem gramaticalmente em número com o sujeito do verbo, mas não necessariamente em pessoa. Mesmo assim, como é demonstrado, ainda que não correspondam no nível gramatical, os marcadores correspondem em pessoa no nível discursivo. Para pesquisadores tentando investigar a língua, esse tipo de construção sempre foi enigmático. Porém, hoje, com um pouco mais de conhecimento sobre construções parecidas em línguas vizinhas (mesmo sendo línguas geneticamente não relacionadas), ficou claro como essa construção tem uma base cognitiva concreta na gramática e na semântica da língua, envolvendo citação fictícia.

Referência(s)