
Aspectos moleculares da transmissão sináptica
1998; UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO; Volume: 32; Issue: 2 Linguagem: Português
10.11606/issn.2176-7262.v32i2p167-188
ISSN2176-7262
AutoresAna C. Polli Lopes, Luciana Casaletti Rosa, René de O. Beleboni, Rodrigo N. R. Pereira, Carlos A. C. de Vasconcelos, Jorge E. Moreira,
Tópico(s)Retinal Development and Disorders
ResumoO Sistema Nervoso Central produz o nosso estado consciente mediante um contínuo fluxo de informações e armazenamento de memórias ao longo da vida, a partir de diferentes estímulos externos. Ao mesmo tempo, controla a concentração dos nossos fluidos internos e o trabalho de músculos e glândulas. A transmissão sináptica é o processo básico de toda esta atividade. Bilhões de neurônios se comunicam entre si via milhares de sinapses, e cada sinapse, por sua vez, é uma estrutura regulada independentemente. A partir desta complexidade, em lugar de caos, surge uma singular ordem na informação processada pelo cérebro. A secreção de neurotransmissores na zona ativa da sinapse é o evento primário da comunicação interneuronal. Este processo é regulado por um tráfego de membranas altamente orquestrado dentro do terminal présináptico. Os neurotransmissores são armazenados em vesículas sinápticas. A despolarização de um terminal nervoso por um potencial de ação resulta na abertura de canais de cálcio, operados por voltagem. O influxo de Ca resultante deflagra a exocitose, que é uma rápida fusão de vesículas com a membrana plasmática, liberando neurotransmissores para a fenda sináptica. A exocitose envolve a junção de proteínas intrínsecas das membranas plasmáticas, vesicular e pré-sináptica, mediante proteínas específicas de ancoragem e fusão na zona ativa (SNARE). Em seguida à liberação, as membranas das vesículas são rapidamente reincorporadas via endocitose e recicladas dentro do terminal sináptico. O terminal é, portanto, uma unidade autônoma que contém todos os elementos requeridos para a exocitose das vesículas, as proteínas responsáveis pela biossíntese do neurotransmissor e recaptação das vesículas. Uma vez liberado, o neurotransmissor difunde através da fenda sináptica e interage com proteínas receptoras na membrana do neurônio póssináptico produzindo, em uma fração de milissegundo, uma permeabilidade intensa e temporária aos íons Na + e K+, provocando a despolarização total de cerca de 100 mV desde um potencial de repouso em torno de -60mV. Isto gera um potencial de ação que se difunde ao longo da membrana do neurônio pós-sináptico, podendo alcançar o seu próprio erminal e deflagrar novo movimento de Ca 2+ para o citosol, gerando um novo potencial. Várias proteínas dentro do terminal pós-sináptico estão envolvidas neste processo. É geralmente aceito que os processos de aprendizado e memória resultam de mudanças estruturais e bioquímicas em sinapses específicas que alteram a liberação de neurotransmissores e a ação pós-sináptica. Tais alterações podem ser registradas eletrofisiologicamente como uma potenciação ou depressão de duração longa (LTP ou LTD) ou a combinação de ambas.
Referência(s)