Artigo Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

Comemorar a infância, celebrar qual criança? Festejos comemorativos nas primeiras décadas republicanas

2000; UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO; Volume: 26; Issue: 1 Linguagem: Português

10.1590/s1517-97022000000100010

ISSN

1678-4634

Autores

Cynthia Greive Veiga, Maria Cristina Soares de Gouvêa,

Tópico(s)

Rural and Ethnic Education

Resumo

O artigo discute aspectos dos múltiplos processos de formação da identidade do brasileiro a partir do estudo da institucionalização das comemorações da criança em Belo Horizonte. Partindo da constatação de que entre o fim do século XIX e o início do XX diferentes saberes dos campos antropológico, médico, jurídico, pedagógico e psicológico são estabelecidos com o intuito de produzir essa identidade, o trabalho focaliza três eventos realizados na cidade: o dia da criança relativo à data nacional de 12 de outubro, instituída em 1924 e fortemente identificado como uma festa escolar; as festas de Natal para as crianças pobres, nas quais a filantropia mobilizou diferentes setores da sociedade; e os concursos de robustez e beleza infantil, iniciados em Belo Horizonte a partir de 1935, com a intenção de comemorar a infância associada aos ideais eugênicos. Argumenta-se que tais eventos contribuíram para a legitimação e propagação dos saberes científicos que elegeram a criança como objeto central de estudo e intervenção. Mais do que celebrar a infância, buscou-se comemorar as ciências, com o objetivo de perseguir o ideal de uma nação civilizada e una, embora marcada por profundas clivagens sócio-raciais, e projetar a criança como utopia de um mundo adulto a ser estabelecido. O trabalho mostra nas conclusões que, hoje, traços de realização desses eventos ainda se mantêm, revelando a permanência de um ideal racial europeizado que marca pela exclusão a vivência de parte das crianças brasileiras.

Referência(s)