Artigo Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

Análise Sociológica das Políticas de Saúde

2012; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE SAÚDE COLETIVA; Volume: 17; Issue: 5 Linguagem: Português

10.1590/s1413-81232012000500031

ISSN

1678-4561

Autores

Pâmela Siegel, Nélson Filice de Barros,

Tópico(s)

Health, Nursing, Elderly Care

Resumo

Departamento de Saude Coletiva, Faculdade de Cien-cias Medicas, Universidade Estadual de Campinas.A presente coletânea reune artigos que sao frutos deestudos realizados por Patrice Pinell no periodo de1981 a 1996, sobre a genese das politicas de saude naFranca. O livro esta constituido de sete artigos, sen-do dois deles, o primeiro e o quinto, escritos com aparticipacao de Sylvia Brossat e de Markos Zafiro-poulos, ambos sociologos franceses.Medico, sociologo, diretor da unidade U158 doInstitut National de la Sante et de la Recherche Medicale(Inserm) e aluno de Pierre Bourdieu, Pinell discorresobre as lutas contra o câncer e o HIV/Aids, a escalametrica da Inteligencia, a toxicomania e a infânciaanormal, o processo de especializacao no campomedico e algumas reflexoes sobre os flagelos sociais.Nos capitulos primeiro e segundo, intitulados“O Nascimento das Politicas para o Câncer na Fran-ca” e “As Politicas para o Câncer e o Sistema de SaudeFrances: a ‘grande medicina’ desafia a concepcao eorganizacao da pratica medica”, Pinell reune o mate-rial de uma pesquisa efetuada entre 1985 e 1991, queresultou em um livro (Naissance d’um Fleau: la luttecontre le cancer em France), publicado em 1992. Nes-tes capitulos, o autor trabalha a construcao socialdo câncer como um flagelo social e analisa a criacaoda Liga Francesa contra o Câncer durante a Primei-ra Guerra Mundial. Foi a partir da existencia destaLiga que o governo frances decidiu implementar aprimeira politica de luta contra o câncer, estabele-cendo uma rede de centros especializados no diag-nostico e tratamento da doenca.Segundo Pinell, foi no periodo das entre guerrasque alguns setores da medicina, da ciencia e de seg-mentos filantropicos da sociedade francesa contri-buiram para criar o movimento contra o câncer,fundando uma nova especialidade, a cancerologia.Na Franca, sao criados os Centros Anticancer(CACs), em 1925, onde os pacientes cancerosos po-bres e curaveis eram atendidos. Alguns Centros par-ticulares atendiam aos pacientes pagantes, e aquelesconsiderados incuraveis eram enviados para asilos,ocasionando, assim, uma enorme desigualdade notratamento oncologico, fato que desencadeou umareforma do sistema de atendimento medico.O capitulo terceiro, intitulado “Uma EpidemiaPolitica: a luta contra a Aids na Franca”, foi retiradodo livro Une Epidemie Politique: la lutte contre lesida en France (1981-1996). O autor se interessapela historia da organizacao AIDES, desde sua cri-acao ate suas crises, e pelas associacoes que sur-gem dela: ARCAT-SIDA; Sante et Paisir Gai; Me-res-Enfants e Sida Info Service. Pinell utiliza a no-cao de espaco social para analisar a atuacao dosagentes envolvidos na organizacao da luta contraa Aids e o processo de medicalizacao desta doenca.“A Invencao da Escala Metrica da Inteligencia” eo titulo do quarto capitulo. O texto expoe um ten-sionamento entre duas abordagens, com resulta-dos inconclusivos. De um lado, consta o ponto devista da logica interna, referente a perspectiva cog-nitiva, filosofica e epistemologica das ideias. Dooutro, estao os estudos baseados na perspectivasocial, inseridos num contexto politico-cultural.Pinell procura mostrar neste texto que a invencaoda escala metrica da inteligencia (EMI) humana foio resultado de um processo social, culminando nosvalores indicados por Binet. Pinell ilustra comoBinet garantiu o ensino especializado aos alunos“anormais”, criando a partir dai um projeto peda-gogico inovador e um ‘Guia para a admissao dascriancas anormais nas classes de aperfeicoamento’,classificando os anormais em aqueles aptos para oasilo ou para a escola. A partir dai, Binet, depois deprocurar solucoes para o estudo experimental dainteligencia na psiquiatria, antropometria e grafo-logia, elabora a escala, a qual incluiu uma especiede tabela de conhecimentos vinculada a diferentesgraus de leitura, que permite operar uma hierar-quia das diversas inteligencias equivalentes a umamedida. A EMI encontrou um terreno fertil nosEstados Unidos do pos-guerra sendo aplicado naselecao dos candidatos a imigracao.No quinto capitulo, cujo titulo e “Drogas, Des-classificacao e Estrategias de Desqualificacao”, Pinelle Zafiropoulos ilustram os diversos discursos nocampo da toxicomania, identificando muito bem ofato de a linha divisoria entre o consumo de produ-tos licitos e ilicitos ser o produto de uma decisaoarbitraria, que os especialistas tentam fundamentarjuridicamente. Os autores descrevem as implicacoesdas praticas sociais underground dos anos 1970 e acontestacao expressa nas lutas politicas e sindicaisda epoca, com a constituicao do vândalo e do dro-gado estigmatizados. Reproduzem um artigo publi-cado no Le Monde, em 6 de fevereiro de 1980, porChristian Colombani, intitulado “Ficou Triste”, doqual transcrevemos a fala de um ex-viciado:“Nao tem [os toxicomanos] mais tanta fanta-sia em relacao ao produto, temos a impressao deque nao querem mais se desligar. So pensam notrabalho, na reinsercao social, ‘de casa para o tra-balho, do trabalho para a droga’, o prazer do pico

Referência(s)