<i>Sedução e heroísmo: imaginação de mulher entre a República das Letras e a Belle Époque (1884–1911)</i> (review)
2011; University of North Carolina at Chapel Hill; Volume: 163; Issue: 1 Linguagem: Português
10.1353/hsf.2011.0031
ISSN2165-6185
Autores Tópico(s)Cultural, Media, and Literary Studies
ResumoReviewed by: Sedução e heroísmo: imaginação de mulher entre a República das Letras e a Belle Époque (1884–1911) Anita Melo Felix, Regina. Sedução e heroísmo: imaginação de mulher entre a República das Letras e a Belle Époque (1884–1911) Ilha de Santa Catarina: Editora Mulheres, 2007. Em Sedução e Heroísmo: imaginação de mulher, Regina Felix analisa a obra de Maria Benedita Bormann (também conhecida pelo pseudônimo Délia) e de Emília Bandeira de Melo (pseudônimo Carmen Dolores), ambas nascidas em meados do século xix e pioneiras da literatura brasileira escrita por mulheres. Os textos analisados nesta obra são os romances Duas irmãs (1884) e Celeste (1894) de Maria Benedita Bormann, e a coletânea de contos Gradações (1897) e o romance A luta (1911) de Emília Bandeira de Melo. O enfoque em Sedução e heroísmo é mostrar como as protagonistas de Bormann e Melo procuram um espaço próprio, para além do espaço delineado à mulher dos fins do xix, o espaço da polis que, por tradição, era ocupado pelos homens. Fazem tal deslocamento numa época que é marcada por outras mudanças: políticas, sociais e de valores tradicionais. [End Page 100] A fim de situar o leitor dentro do contexto histórico e social brasileiro, o primeiro capítulo de Sedução e heroísmo traz uma descrição detalhada dos valores e costumes da época da primeira república, ao mesmo tempo que delineia as mudanças que gradualmente ocorriam na sociedade, principalmente concernentes ao espaço da mulher. Dialogando com textos de Jürgen Habermas, Hannah Arendt, Nicolau Sevcenko e Simone de Beauvoir, Sedução e heroísmo faz provocações quanto às representações masculinas da república das letras. A autora delinea o imaginário da ordem sócio-política do século xix, apontando como a obra de Bormann e Melo representa a trajetória da saída das mulheres do círculo a elas designado através de uma “encenação imagética, imaginária, de relações concretas.” Na análise de Duas irmãs e Celeste, a obra descontrói o papel das protagonistas através de suas representações de gênero dentro do contexto da ideologia patriarcal. A análise de Duas irmãs salienta o fato da protagonista sentir-se inquieta com o espaço a ela dado pela sociedade patriarcal da época, e atenta para o fato de como o texto subverte o status quo caseiro imposto à mulher brasileira do final do século xix. A análise de Celeste aponta para o comportamento erótico da protagonista, e de como o corpo feminino emerge como símbolo de uma nova identidade feminina que desequilibra o modelo patriarcal; “Celeste demonstra a possibilidade de uma manipulação cultural, que vai contra a sina da família e maternidade da família.” Ao analisar a coletânea de contos Gradações e o romance A luta de Melo, Sedução e heroísmo atenta para importância da escrita de Melo no fim do século xix, cujas protagonistas femininas contrariam as regras impostas, abandonando o espaço do lar que as isola da sociedade. A análise de Gradações mostra que embora o romance trabalhe com o estado alienado da condição feminina burguesa, subjugada aos sentimentos amorosos, o faz para explorar sutilmente o estado psicológico da identidade feminina, próprio do romance de fim de século. Em A luta, a autora enfatiza com mais rigor o fato de que o texto tem um caráter naturalista e realista que assemelha-se a textos clássicos de Zola, Eça de Queirós e Flaubert, mas a visão desse mundo naturalista é descrito sob o ponto de vista da escrita feminina. Sedução e heroísmo, como sugere o título, é um livro sedutor que apresenta ao leitor nomes importantes e pioneiros da escrita feminina brasileira de fins do século xix. A leitura da obra é de fácil entendimento, embora seja necessário conhecimento prévio dos...
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