Artigo Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

Caridade e filantropia na distribuição da assistência: a irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas - RS (1847-1922)

2008; Fundação Oswaldo Cruz, Casa de Oswaldo Cruz; Volume: 15; Issue: 1 Linguagem: Português

10.1590/s0104-59702008000100018

ISSN

1678-4758

Autores

Cláudia Tomaschewski,

Tópico(s)

History of Colonial Brazil

Resumo

Trata da Irmandade da Santa Casa de Misericordia de Pelotas (Rio Grande do Sul, Brasil), instituicao que foi a principal responsavel pelo auxilio aos pobres por meio da caridade e da filantropia publica e privada na cidade. O objetivo principal e compreender a relacao entre a Irmandade, seus associados e o Estado, na distribuicao da assistencia hospitalar, medica, funeraria e asilar. Busca tambem perceber quais as concepcoes de assistencia vigentes na elite provincial e como os ricos locais buscavam ordenar a sociedade em que viviam. Associacoes tipicas do mundo lusofono, as Misericordias foram organizadas em diversos lugares de colonizacao portuguesa, tendo como modelo a irmandade organizada em Lisboa, em 1498. A Santa Casa de Misericordia foi fundada durante o Segundo Imperio, em 1847, quando Pelotas abrigava grande parte dos estabelecimentos de producao de charque (carne salgada) e era uma das principais cidades organizadas pelos portugueses na entao provincia de Sao Pedro do Rio Grande do Sul. Para realizar atividades assistenciais, a Misericordia de Pelotas mantinha um hospital desde 1848, onde eram recebidos os expostos (criancas abandonadas) e enfermos. A Santa Casa tambem monopolizava enterros e transporte para o cemiterio (fundado em 1855). Mantinha ainda duas capelas para rezar missas pelas almas dos irmaos e benfeitores. Os irmaos, e principalmente os dirigentes, pertenciam as elites politicas, economicas e sociais locais. Consequentemente os mais ricos podiam controlar de perto o cuidado aos mais pobres. A receita da Irmandade provinha principalmente dos doadores, dos rendimentos do cemiterio e de subvencoes e privilegios concedidos pelo Estado. A maior parte das fontes utilizadas para a pesquisa empirica e oriunda do acervo da Misericordia local. Juntamente com a documentacao primaria, a bibliografia regional de historia social foi primordial para compreender o contexto de organizacao da sociedade rio-grandense da epoca, e nessa literatura destacam-se os trabalhos de Beatriz Teixeira Weber sobre a medicina, Adhemar Lourenco da Silva Jr. sobre as sociedades de socorros mutuos e Yonissa Marmitt Wadi sobre a assistencia asilar/psiquiatrica aos loucos. O estudo revela que a mudanca principal no modo como o auxilio foi pensado e contemporânea ao fim da escravidao e a queda da Monarquia, no final da decada de 1880, quando tambem os dirigentes da Misericordia tenderam a perder o poder politico regional. A partir desse momento, houve mudancas na composicao da Irmandade (maior abertura ao ingresso) e na distribuicao da assistencia, que passou a ser organizada de acordo com a nova configuracao politica e social. As novas administracoes concentraram esforcos na redefinicao das atividades do hospital, que deveria receber nao apenas os pobres, mas tambem aqueles que podiam pagar. No entanto as relacoes entre Misericordia e Estado nao mudaram significativamente, tampouco se alteraram as relacoes entre a instituicao e os sujeitos recebedores da assistencia, que continuou sendo concedida como uma dadiva. Dissertacao disponivel em: http://www.tede.pucrs.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=613.

Referência(s)