Artigo Acesso aberto Revisado por pares

Degeneração oxychromatica ("inclusões intranucleares") na febre amarella

1931; Instituto Oswaldo Cruz, Ministério da Saúde; Volume: 25; Issue: 2 Linguagem: Português

10.1590/s0074-02761931000200001

ISSN

1678-8060

Autores

C. Magarinos Torres,

Tópico(s)

Plant Virus Research Studies

Resumo

1- No interior do nucleo de cellulas hepaticas de Macacus rhesus e M. cynomolgus (figs. 13-34) inoculado com o virus da febre amarella e de cellulas hepaticas de doentes de febre amarella (figs. 61-65 e 68-69) ocorre o processo regressivo referido na literatura sob o nome de «degeneracao oxychromatica». Tal processo apresenta grande intensidade nos macacos, sendo, porem, assaz escasso no material humano colhido em autopsias. Esta alteracao esta intimamente associada ao effeito nocivo causado pelo proprio virus da febre amarella, sendo, neste sentido, a unica alteracao verdadeiramente especifica na febre amarella. Nao foram encontradas alteracoes do cytoplasma nem granulos intracellulares que tivessem relacao com o virus da febre amarella. Assim sendo, a febre amarella pertencera ao grupo de doencas de virus filtraveis produzindo alteracoes cellulares caracteristicas ou corpusculos especificos, exclusivamente limitados ao nucleo. Deve ser incluida, portanto no grupo karyo-oikon da classificacao de Lipschutz, juntamente com herpes, varicella, virus III do coelho, «submaxillary disease», etc. Como acontece em geral, nas doencas de virus filtraveis, formando inclusoes intracellulares, observa-se na febre amarella que a inclusao celular especifica predomina ou existe exclusivamente em determinada especie cellular. Ate agora, no nosso material so conseguimos evidenciar a degeneracao oxychromatica da febre amarella na cellula hepatica. Quando existe, porem, a sua abundancia e notavel, nao raro attingido a quasi totalidade das cellulas hepaticas nos cortes histologicos examinados. Esse facto nao poude ser observado nos casos humanos que examinamos,provavelmente em virtude de condicoes proprias do virus no homem e da phase da molestia na qual foi retirado o material para estudo. Nas cellulas da camada cortical das suprarenaes de M. rhesus infectados encontramos aspectos nucleares suggestivos de degeneracao oxychromatica (figs. 37 e 40); sao escassos e de caracterisacao duvidosa em virtude da concomitancia de alteracoes necrobioticas nao especificas. 2- Durante a epidemia de febre amarella em 1928 no Rio de Janeiro, notamos differencas assaz pronunciadas entre as lesoes hepaticas no homem e no M. rhesus. Taes differencas, existindo em material assaz homogeneo quanto as amostras de virus em questao, nos levam a concluir que a capacidade de formar corpusculos intranucleares especificos, como tambem a ja conhecida permanencia do virus no sangue e nos tecidos, depende, de modo evidente, da especie animal usada e nao da propria amostra empregada, nem do numero de passagens que ella soffreu no macaco. Embora os doentes pertencessem a racas differentes (quadro VIII) e embora, possivelmente diversas amostras de virus tenham sido nelles inoculadas, estamos autorisados a concluir que a amostra ou amostras que infectaram o homem na epidemia de 1928, no Rio de janeiro, possuem nelle uma fraca capacidade de determinar inclusoes intranucleares. Ao contrario, a mesma amostra ou amostras sao capazes de produzir no M. rhesus, logo na primeira passagem, inclusoes intranucleares assaz abundantes. Outra diferenca que notamos e attribuimos a especie animal empregada foi; as alteracoes hepaticas de natureza toxica e circulatoria (congestao, necrose e necrobiose da cellula hepatica) sao nitidamente mais intensas no homem que nos macacos injectados com as amostras brasileiras do virus da febre amarella isoladas durante a epidemia de 1928 no Rio de Janeiro. Conseguimos, no homem, evidencia de inclusoes typicas na cellula hepatica, apenas em tres casos dentre dezesete examinados. Esse resultado, provavelmente, ainda nao e definitivo, indicando, apenas a raridade extrema que os corpusculos podem apresentar nos casos de febre amarella que ordinariamente chegam a autopsia. Tambem nao realisamos uma pesquiza exhaustiva dos corpusculos em outros orgaos alem do figado. O caso no qual encontramos em maior abundancia os corpusculos intranucleares, offerecia duas circumstancias que isoladamente, e, com maior razao, associadas, nao sao habituaes em material de autopsia de febre amarella, a saber: trata-se de uma creanca fallecida cerca de 40 horas apos o inicio da molestia e a autopsia foi iniciada 30 minutos apos o obito. Notamos que, quando em uma preparacao e encontrada uma cellula hepatica com inclusao, o exame nao tarda em demonstrar, em campos microscopicos visinhos, uma ou outra cellula tambem com inclusao, ao passo que em pontos mais distantes nenhuma cellula e encontrada apresentando inclusoes. Esses «focos» de cellulas com inclusoes nem sempre sao faceis de encontrar, o que esta de accordo com as differencas topographicas de outras lesoes hepaticas, referidas por Oskar Klotz (1928) e Hudson (1928). 3- A degeneracao oxychromatica e um processo regressivo nuclear, no qual tomam parte predominante elementos presentes no nucleo normal de cellulas tratadas pelos fixadores habituaes. Sao elles: a oxychromatina, o reticulo de linina e as particulas de basichromatina neste ultimo incrustadas; de mistura e associadas a oxychromatina existem provavelmente outras albuminas nucleares acidophilas oriundas do nucleoplasma em condicoes pathologicas do nucleo. Apenas esses elementos se apresentam alterados, quer quantitativamente, quer em seu aspecto e disposicao reciproca, quer em suas affinidades tinctoriaes. O facto importante a reter e que taes modificacoes regressivas interessam, no inicio, unicamente determinadas partes componentes do nucleo com exclusao de outras e reproduzem nas cellulas hepaticas de animaes infectados, de maneira constante e regular, aspectos nucleares absolutamente typicos e especificos da infeccao pelo virus amarillico. 4- O corpusculo intranuclear da febre amarella, em phases typicas (figs. 69 e 71) mostra-se constituido por uma «substancia fundamental» e por um «stroma». A substancia fundamental e uma albumina nuclear basica, em parte formada pela oxychromatina ou lanthanina, em parte por outras nucleoproteinas...

Referência(s)