Topologias de poder: a análise de Foucault sobre o governo político para além da "governamentalidade"
2011; Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília; Issue: 5 Linguagem: Português
10.1590/s0103-33522011000100010
ISSN2178-4884
Autores Tópico(s)Social and Economic Solidarity
ResumoA publicação das conferências de Michel Foucault no Collége de France, no final da década de 1970, proporcionou uma nova compreensão sobre desenvolvimentos cruciais em sua obra tardia, inclusive o retorno a uma análise do Estado e a introdução da biopolítica como um tema central. Segundo uma interpretação dominante, essas mudanças não acarretaram uma ruptura metodológica fundamental; o enfoque desenvolvido por Foucault em seu trabalho sobre conhecimento/poder foi simplesmente aplicado a novos objetos. O presente artigo argumenta que essa leitura - marcada pelo privilégio esmagador concedido a Vigiar e punir na literatura secundária - obscurece uma modificação importante no método e no estilo de diagnóstico de Foucault, ocorrida entre a introdução da biopolítica em 1976 (Em defesa da sociedade) e as conferências de 1978 (Segurança, território e população) e 1979 (Nascimento da biopolítica). A análise inicial de Foucault sobre a biopolítica foi formulada em afirmações supreendentemente baseadas nas épocas e totalizantes sobre as formas características de poder na modernidade. Em contraste, as últimas conferências sugerem o que proponho chamar de uma análise "topológica" que examina os "padrões de correlação" em que elementos heterogêneos - técnicas, formas materiais, estruturas institucionais e tecnologias de poder - são configurados, bem como os rearranjos através dos quais esses padrões são transformados. Também indico como a atenção à dimensão topológica da análise de Foucault poderia mudar nossa compreensão de temas-chave em seus últimos trabalhos: a biopolítica, a análise do pensamento, e o conceito de governamentalidade.
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