Artigo Acesso aberto

O PROBLEMA SANITARIO DOS COPOS, LOUÇAS E TALHERES DOS RESTAURANTES, BARES E CAFÉS DO CENTRO DA CIDADE DE SÃO PAULO, REVELADO POR INQUÉRITO BACTERIOLÓGICO. CAUSAS DETERMINANTES E SUGESTõES PARA A SUA SOLUÇÃO

1947; Editora da Universidade de São Paulo; Volume: 1; Issue: 2 Linguagem: Português

10.11606/issn.2358-792x.v1i2p241-264

ISSN

2358-792X

Autores

Dácio De Almeida Christovão,

Tópico(s)

Food Safety and Hygiene

Resumo

Os estabelecimentos de alimentação pelos utensílios de uso público podem desempenhar papel considerável na transmissão da grande maioria das doenças infecciosas- muito principalmente daquelas cujo agente patogênico pode encontrar-se na saliva - devido ao enorme número de pessoas que os frequentam, entre as quais forçosamente se encontrarão portadores em geral, inclusive pessoas em fase de incubação, indivíduos com infecções sub-clínicas, formas ambulatórias ou infecções latentes, e convalescentes. Dada a importância do problema, o autor realizou um estudo sôbre as condições sanitárias dos copos, louças e talheres dos restaurantes, bares e cafés do centro da cidade de São Paulo e que constou de um inquérito bacteriológico e da observaÇão dos processos de lavagem e desinfecção adotados nesses estabelecimentos. A investigação bacteriológica compreendeu a contagem total de bactérias - feita pela técnica padrão proposta pela Associação Americana de Saúde Pública- e a pesquisa de pneumococos, estreptococos hemolíticos, estafilococos patogênicos, bacilos da tuberculose e microorganismos do grupo coliforme. Os 32 cafés e bares e 12 restaurantes, objeto desta investigação, foram sorteados entre os existentes na área de estudo e todos os utensílios examinados foram tomados ao acaso entre o material lavado,o lavado e desinfetado, como no caso das chícaras de café. Examinaram-se 1. 568 utensílios, tomados em partidas de 7 utensílios cada uma. O padrão proposto pela Associação Americana de Saúde Pública é o do número médio de 100 bactérias por utensílio como o máximo a ser considerado satisfatório. Nos cafés e bares, o número médio de bactérias encontradas nas chícaras e copos foi, respectivamente, de 3.863 e 85.331,e, tomando-se as partidas individualmente, o número médio máximo atingiu a 88.400 para as chícaras e 720,000 para os copos. Apenas 14,1% das partidas de chícaras podem ser consideradas satisfatórias e nenhuma partida de copos foi encontrada dentro dos limites do padrão. A temperatura média da água dos "esterilizadores" de chícaras foi apenas 58,4°C e se encontraram como pontos extremos, 42° e 72°C. Nos restaurantes, o número medio de bactérias dos copos, pratos, garfos e colheres foi de, respectivamente, 45.851, 86.527, 6.313..e 9.095. Tomandose as partidas individualmente, o número médio máximo encontrado foi de 244.000 para os copos, 736.000 para os pratos, 55.000 para os garfos e 62.000 para as colheres. Ainda individualmente, sómente uma das partidas de copos entre todo o material examinado dos restaurantes, pôde ser declarada satisfatórias. Quanto aos patogênicos procurados, isolaram-se: pneumococos, de 3,1 das partidas de chícaras de café e de 4,21J'o das partidàs de copos e de garfos de restaurantes; estreptococos hemolíticos, de 45,31J'o das partidas de copos e de 18,8%. das partidas de chícaras dos cafés e, respectivamente, de 8,3%, 16,71% e 8,3% das partidas de copos, garfos e colheres dos restaurantes; estafilococos patogênicos, de 15,6% das partidas de copos e de 21,9% das partidas de chícaras dos cafés e de, respectivamente, 8,3%, 16,7%, 4,2% e 12,5% das partidas de copos, pratos, garfos e colheres dos restaurantes. Não se encontraram bacilos da tuberculose. Acharam-se coliformes em 40,7% das partidas examinadas e Escherichia coli em, respectivamente, 4,71J'/ e 6,3% das partidas de copos e chícaras dos cafés e em 9,1 %, 4,5% e 4,5% das partidas de copos, pratos e garfos dos restaurantes. Os elevadíssimos números de bactérias presentes em todos os tipos de utensílios, e as altas percentagens de partidas onde a presença de germes patogênicos foi revelada, assim como o número de. partidas de onde se isolou Escherichia coli, evidenciam a existência de um grave problema sanitário. Nada mais são, no entanto, que o resultado dos processos elementares de lavagem adotados nos estabelecimentos em questão e da inexistência de quaisquer cuidados de desinfecção, como foi observado no decorrer dêste trabalho. Impõe-se, portanto, a adoção de medidas capazes de melhorar essa situação prontamente e de saná-la no tempo mais breve. O autor discute os princípios que devem ser considerados da adoção dessas medidas, entre as quais ressaltam as referentes aos métodos de desinfecção. Lembra, relativamente a estas, que os métodos bem provados e de fácil fiscalização são o da água quente e o do clôro e sugere a adoção do processo da água quente (imersão dos utensílios lavados em água à temperatura de 82° a 77°C por 1 a 2 minutos) para a desinfecção dos utensílios de restaurantes, excetuando-se os copos. Para êstes, assim como para as chícaras e copos dos cafés e bares, sugere o emprego dos compostos inorgânicos do clôro em solução de 50 a 100 partes de clôro disponível por milhão e tempo de imersão (ou de imersão, inversão e escorrimento em local apropriado) de 2 minutos.

Referência(s)