Stanislavski na cena americana
2002; UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO; Volume: 16; Issue: 46 Linguagem: Português
10.1590/s0103-40142002000300008
ISSN1806-9592
Autores Tópico(s)Arts and Performance Studies
ResumoOS ESTADOS UNIDOS, teatro sempre foi negocio serio, com o qual o Estado nunca teve qualquer compromisso, salvo pelo curto periodo (1935 a 1939) do Governo Roosevelt, quando uma pequena verba foi destinada a socorrer artistas desempregados, no âmbito da politica do new deal. Para se ter ideia do significado da palavra negocio, neste caso, basta dizer que, ate 1914, a maior empresa dedicada a sua exploracao, a dos irmaos Shubert, controlava 350 salas de espetaculo em todo o pais, e que nos anos de 1920 (quando se consolidou a Broadway como o maior centro de producao de mediocridades) havia centenas de pequenas empresas produtoras sob o guarda-chuva da Shubert Teatrical Corporation. Um desdobramento necessario desta ideia: quando o cinema surgiu como produto mais lucrativo que o espetaculo teatral sob qualquer ponto de vista, esses produtores nao hesitaram em transformar seus teatros em salas de exibicao de filmes ou de espetaculos por sessoes, na melhor das hipoteses alternando espetaculos de variedades (que podiam incluir ate numeros de striptease) e projecoes de filmes. Num ambiente deste tipo, surge quase que naturalmente o star system, em que num primeiro momento grandes estrelas (homens ou mulheres) caem no gosto do publico e se tornam chamarizes de bilheteria. Por causa delas os elencos se hierarquizam, atores se especializam e as proprias pecas sao escritas, desde logo oferecendo ao publico o conhecido “mais do mesmo”. As estrelas sao tratadas com a maxima distincao, inclusive monetaria – ja que “valem mais” que os meros figurantes –, e em torno delas se desenvolve toda uma rede de interesses e grandes negocios liderada pela imprensa (jornais e publicacoes especializadas, que incluem livros e revistas). As condicoes de trabalho, quando nao chegam as raias da escravidao, envolvem de pessimos salarios para quem nao e estrela ao aterrorizante lema “o espetaculo tem que continuar”, que despreza condicoes fisicas ou psicologicas dos empregados (atores, tecnicos, funcionarios), ignora condicoes minimas de palco (permitindo que artistas corram riscos de vida) e mesmo de sala – que podem ser inacreditaveis pulgueiros, para nao dizer coisa mais pesada, pois poem em risco a saude publica e assim por diante. Arte e uma palavra que passa muito longe do negocio, em larga medida herdada por Hollywood, que o desenvolveu amplamente e assumiu a lideranca no setor (o teatro passou a funcionar de modo subordinado, sem nunca perder a condicao de “laboratorio artistico”), situacao que persiste ate hoje, pois por enquanto estamos falando de business.
Referência(s)