Artigo Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

Octávio Ianni: a ironia apaixonada

2008; UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL; Issue: 20 Linguagem: Português

10.1590/s1517-45222008000200014

ISSN

1807-0337

Autores

Renato Ortiz,

Tópico(s)

Linguistics and Language Studies

Resumo

a sua aparencia, a expressao afinidade eletiva algumas ve-zes nos induz ao erro. Ela nos da a falsa impressao de quea dimensao da eleicao prevalece sobre a afinidade, tornan-do-a fruto de uma escolha individual. Lida assim, o sujeito,na sua independencia, seria o senhor de sua propria vonta-de. Contudo, quando Goethe a utiliza como titulo de um de seus livros, suaintencao e outra: os personagens, encerrados numa pequena propriedadefora da cidade, isolados do mundo, experimentam uma situacao na qual arazao e suplantada por forcas incontrolaveis. Eles se perdem, desviam-se desuas rotas e planos originais, os subentendidos os envolvem e os impelemnuma direcao imprevisivel. Arrastados pela torrente dos fatos, suas subjeti-vidades transformam-se e se moldam a revelia de suas conviccoes. Afinida-de eletiva era um termo da Quimica pre-moderna, que descrevia o movi-mento e a atracao das particulas de substâncias diversas e contraditorias.Malgrado suas disparidades e incompatibilidades convergiam num mesmosentido. Minha relacao com Octavio tinha algo disso. Nossas diferencasgravitacionalmente nos impeliam para um ponto de fuga, o trabalho inte-lectual. Esse era um tema recorrente de nossas conversas, ele apagavamomentaneamente os contrastes diluindo nossas idiossincrasias. Ao esbo-car o retrato de alguem que partiu, este e o rosto que gostaria de gravar, elee um traco individual, modal a uma personalidade determinada, mas trans-

Referência(s)