Artigo Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

Naufrágio e galanteio: viagem, cultura e cidades em Mário de Andrade e Gilberto Freyre

2005; National Association of Post-Graduate Research in Social Sciences; Volume: 20; Issue: 57 Linguagem: Português

10.1590/s0102-69092005000100009

ISSN

1806-9053

Autores

José Tavares Correia de Lira,

Tópico(s)

Literature, Culture, and Criticism

Resumo

Na literatura de viagem, dois gêneros tradicionais se destacam: o diário e o guia; e dois personagens: o viajante e o cicerone. O objetivo deste artigo é avançar na compreensão das cidades como campo cultural na perspectiva da viagem e dos viajantes. Para tal, proponho repensar a distância entre Mário de Andrade e Gilberto Freyre, figuras centrais do modernismo e da antropologia no Brasil, a partir do exame de suas experiências de viagem. Mais especificamente, trata-se de encenar um encontro entre estas personalidades diversas, às vezes antagônicas, em um topos comum de acesso à cultura brasileira: as cidades do Norte e do Nordeste do Brasil, surpreendidas na crise do regime agro-exportador e patriarcal, com seus resíduos de paisagem e caráter, povo e modos de vida, memória, forma urbana, arquitetura, arte e folclore. A base de leitura são os diários e crônicas redigidos pelo escritor paulistano ao longo de suas duas longas viagens etnográficas à Amazônia (1927) e ao Nordeste (1928/1929); o diário de juventude, as crônicas de jornal e o Guia Prático, Histórico e Sentimental da Cidade do Recife (1934), do antropólogo pernambucano. Se a opção por estes escritos - menores no conjunto de suas obras, é verdade, porém sólidas posições nos gêneros em que se incluem - instiga o turista e o cicerone a uma relação de proximidade, neles é possível flagrar, ao lado da viagem prazerosa, uma dimensão exploratória e etnográfica da sociedade moderna.

Referência(s)