Imposturas intelectuais: a sociologia (auto)crítica de Pierre Bourdieu
2006; CENTRO BRASILEIRO DE ANÁLISE E PLANEJAMENTO; Issue: 74 Linguagem: Português
10.1590/s0101-33002006000100014
ISSN1980-5403
Autores Tópico(s)Youth, Politics, and Society
ResumoIsto não é uma biografia."Essa a epígrafe -e também uma espécie de advertência ao leitor -que serve de abertura ao mais recente livro de Pierre Bourdieu publicado no Brasil.E,se não é gênero biográfico,como o título da obra poderia indicar,então o que é? Avesso a esse tipo de literatura por considerá-la convencional e ilusória, Bourdieu atesta que "compreender é primeiro compreender o campo com o qual e contra o qual cada um se faz" (p.40),o que significa dizer,portanto,que o autor se empenhou em escrever sua própria história social.Ou seja,com base em sua trajetória,experiências,expectativas, desilusões e a "emoção raciocinada" -como afirma Sergio Miceli na introdução -,Bourdieu reconstrói,mobilizando um tremendo esforço de reflexividade, o processo de estruturação do campo acadêmico francês em curso desde os anos 1950,data que marca seu ingresso no mundo intelectual como aluno da Escola Normal Superior no curso de filosofia.Em tal processo,ao tomar-se como objeto de análise,Bourdieu não apenas escreve a história de si mesmo, como se preocupa em contar uma parte da história da constituição e afirmação da sociologia na França.No momento em que ele entra na universidade, a filosofia se apresentava como disciplina no ápice da hierarquia escolar, ao passo que a sociologia aparecia como "disciplina pária" (p.67), ocupando posição subalterna.É em torno do curso de filosofia que se forma certa "aristocracia escolar" que determinava as ambições intelectuais tanto daqueles que ensaiavam os primeiros passos no seio do curso,como daqueles que já dispunham do diploma escolar, marca distintiva em relação aos iniciantes e colegas que se formavam noutras disciplinas.Criava-se,assim, entre os filósofos (ou postulantes a tal) um sentimento social de pertencer a uma "essência superior", como diz Bourdieu; um "espírito de corpo" (p.43) alimentado pelas disposições e tomadas de posição que ajudava a criar e que provocavam conseqüências inclusive na produção acadêmica,impedindo os filósofos,por exemplo,de ligar-se a certas disciplinas,teorias e objetos considerados menos "nobres" ou "dignos",
Referência(s)