
DOSSIÊ ANÁFORAS - ALGUNS PROBLEMAS NO ESTUDO DA ANÁFORA TEXTUAL
2001; UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ; Volume: 56; Linguagem: Português
10.5380/rel.v56i0.18414
ISSN2236-0999
Autores Tópico(s)linguistics and terminology studies
ResumoA concepção referencial da anáfora textual (que faz consistir esse fenômeno na identidade de referência entre duas expressões de um mesmo texto), ao mesmo tempo que dá a devida importância a um mecanismo de coesão textual bem conhecido, leva a negligenciar outros mecanismos coesivos igualmente importantes. Para justificar esse ponto de vista, analiso inicialmente uma teoria não ingênua da narração que tem na concepção referencial seu principal fundamento (Bonomi, 1994), e mostro que ela se aplica mal aos textos narrativos em que as personagens não são indivíduos convencionais (o texto usado como exemplo é parte de uma aula de história do cinema brasileiro). A seguir, caracterizo alguns tipos de anáfora que não respeitam os esquemas derivados da concepção referencial: a) aqueles em que há omissão do termo anafórico {procurei o filho mas só encontrei o pai), b) aqueles em que há retomada de um conteúdo proposicional (o que costuma ser feito pelo demonstrativo neutro isso), c) aqueles que remetem a um segmento do texto anterior, reformulando seu conteúdo. A análise desses casos apenas aparentemente excepcionais me leva a crer que a anáfora, à semelhança de outros fenômenos, como a sinonimia, deve ser encarada como uma operação de conservação e deslocamento, sujeita a restrições cognitivas bem precisas. Isso, por sua vez, obriga o lingüista que estuda a coesão textual a mobilizar constantemente seus conhecimentos de semântica lexical, determinação nominal e funcionamento dos esquemas cognitivos associados à linguagem.
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