Artigo Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

Empreendedor: Origens, Concepções Teóricas, Dispersão e Integração

2014; Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (ANPAD); Volume: 18; Issue: 6 Linguagem: Português

10.1590/1982-7849rac20141244

ISSN

1982-7849

Autores

Gláucia Maria Vasconcellos Vale,

Tópico(s)

Family Business Performance and Succession

Resumo

Mais de dois seculos separam os cervejeiros mencionados por Adam Smith (1976), em sua obra classica, dos empreendedores de hoje. Os primeiros viviam em um ambiente socioeconomico caracterizado por uma relativa estabilidade. Eram detentores de oficios cujas tradicoes passavam de geracao para geracao. Os empreendedores atuais, por sua vez, situam-se em um mundo completamente diferente, caracterizado por rapidas transformacoes e grande competicao e sao vistos como personagens multifacetados. O conceito de empreendedor e, atualmente, utilizado para designar diferentes facetas de um personagem (Gartner, 1988, 2001), tais como alguem dotado de capacidade de inovacao; de espirito de iniciativa; que assume riscos em um negocio; que decide sobre o uso e a coordenacao de recursos escassos, etc. Para Sumpf e Hugues (1973), o empreendedor seria um conceito sociologico. Mais precisamente, um tipo ideal, no sentido weberiano. O nascimento e as alteracoes no conceito de empreendedor revelam, de certa maneira, as transformacoes da propria sociedade e sua evolucao, de uma base de producao agraria para uma economia mercantil e, finalmente, para a sociedade industrial, que precedeu ao mundo contemporâneo, no qual impera a figura do empreendedor. Como comentado por Hoselitz (1951), a historia das palavras reflete a historia das instituicoes e costumes. Quando surge uma nova palavra ou quando uma velha palavra adquire um novo significado, significa que o desenvolvimento social gerou tal necessidade, de maneira a expressar uma nova realidade. O caso do empreendedor e emblematico. Conceitos e teorias sobre o empreendedor se alteraram com o tempo. Seus fundamentos teoricos surgiram, inicialmente, no contexto da economia e podem ser identificados, em primeiro lugar, na Franca e, em segundo lugar, na Inglaterra. Ao longo do tempo, a contribuicao francesa foi se extinguindo, enquanto que as contribuicoes da lingua inglesa adquiriram grande vitalidade. O seculo XX ─ em particular as ultimas decadas ─ presenciou a introducao da preocupacao com o empreendedorismo entre os grandes temas das ciencias sociais, com contribuicoes advindas de varias areas de conhecimentos. Para Lohrke e Landstrom (2012, p. 10) “a pesquisa sistematica de empreendedorismo vem sendo conduzida ha cerca de 40 anos, tendo emergido na decada de 1980”. Para Blackburn (2011), o conceito de empreendedor e central para ideologias de diferentes sociedades ao redor do mundo. Observa, entao, que (2011, p. xiii), “extraindo dos pilares das ciencias sociais, estudiosos do empreendedorismo e seus trabalhos estao influenciando e ajudando a redefinir fundamentos academicos dominantes e suas fronteiras”. Mas diferentes sao as concepcoes teoricas basicas hoje existentes, cada uma delas enfatizando determinada faceta ou dimensao desse personagem. Como salientado por Lohrke e Landstrom (2012), considerando que as pesquisas sobre empreendedorismo estao se tornando mais dirigidas por teorias e que pesquisadores vem extraindo teorias de varios campos de conhecimentos, torna-se importante conhecer as diferentes raizes intelectuais das reflexoes sobre empreendedor. O proposito deste artigo e o de apresentar e analisar as origens e evolucao de diferentes concepcoes teoricas sobre o empreendedor, as principais vertentes teoricas hoje existentes e os pontos de convergencia entre elas. Como sera possivel observar, existem muitos pontos de interacao e dialogo entre os pioneiros de diferentes abordagens teoricas, o que, por si so, ja sinalizaria para uma promessa de integracao. No entanto, isso nao ocorre. As pesquisas atuais tendem a explorar, geralmente, um unico eixo teorico. Essa tendencia, todavia, vem sendo muito criticada, inclusive por alguns autores que clamam por uma maior interdisciplinaridade nos estudos sobre empreendedorismo (Gartner & Shane, 1995; Thornton, 1999). O artigo encontra-se dividido em tres partes. A primeira enfoca as origens de uma teoria do empreendedor, associada ao aparecimento e evolucao do proprio conceito. A segunda analisa as principais perspectivas teoricas mais estruturadas sobre o empreendedor, como um ator diferenciado: (a) a vertente da economia; (b) a vertente da inovacao; (c) a vertente da sociologia; (d) a vertente da sociologia economica; (e) a vertente da psicologia. Na conclusao sao destacadas as peculiaridades e convergencias ai presentes. Observa-se que as novas teorias sobre o empreendedor, atualmente em fase

Referência(s)