Artigo Revisado por pares

Subaltern Writings: Readings on Graciliano Ramos’s Novels by Fernando de Sousa Rocha

2014; American Association of Teachers of Spanish and Portuguese; Volume: 97; Issue: 4 Linguagem: Português

10.1353/hpn.2014.0118

ISSN

2153-6414

Autores

Débora Racy Soares,

Tópico(s)

Urban Development and Societal Issues

Resumo

Reviewed by: Subaltern Writings: Readings on Graciliano Ramos’s Novels by Fernando de Sousa Rocha Débora Racy Soares Rocha, Fernando de Sousa . Subaltern Writings: Readings on Graciliano Ramos’s Novels. New York : Lang , 2013 . Pp. 175 . ISBN 978-1-4331-2310-8 . Cacoethes scribendi ou desejo insaciável de escrever é a palavra-chave que ilumina e conduz as reflexões, bastante pertinentes, de Rocha em Subaltern Writings. Não é por acaso que a expressão latina, atribuída a Juvenal, aparece diversas vezes nesse livro cuja proposta é realizar a leitura de dois romances modernos significativos—Caetés (1933) e Angústia (1936)—do escritor brasileiro Graciliano Ramos. Caetés, romance inaugural de Ramos que tem falhado em despertar a atenção dos críticos brasileiros e Angústia, sua terceira obra, são perpassados, cada um à sua particular maneira, pela questão do desejo e da (im)possibilidade da escrita. O cacoethes scribendi encontra saídas estéticas inteligentes (suspensões, ambiguidades, oscilações, dúvidas, paralelismos), tanto no plano formal quanto no semântico, que garantem sua materialização, ainda que ela seja configurada em double bind. O mais interessante, contudo, é observar que o desejo insaciável de escrever perpassa e alinhava, de variados modos, a configuração dos personagens dos romances escolhidos para análise, a própria vocação do escritor Graciliano Ramos e também a do leitor-autor Rocha. No prefácio, Rocha introduz uma questão pontual—como não me tornei um autor?— sugerindo que tal impossibilidade, concretizável apesar e por causa do paradoxo que a sustenta, parece acompanhar também sua trajetória. De certa forma, o leitor fica perplexo diante do emaranhado de significados suscitados por essa indagação e um pouco sem saber se o autor fala de si, de Graciliano Ramos ou dos narradores que analisa. Com o andar da leitura, entretanto, logo se percebe que todas essas questões estão imbricadas e se retroalimentam. Só por isso ou, quiçá, também por isso, não é esse um livro de leitura fácil. Embora sua leitura seja imprescindível para os iniciados na obra de Graciliano Ramos e demais interessados no assunto, já que é inovadora em termos analíticos, exige, em contrapartida, leitores com algum traquejo em vaivéns [End Page 698] argumentativos e capazes de acompanhar as inúmeras digressões efetuadas pelo autor, ao longo de suas reflexões. Se essas digressões exigem esforço redobrado do leitor, de nenhum modo prejudicam o andamento do assunto. Rocha recupera o fio da meada com a mesma facilidade com que parece—apenas aparenta—perdê-lo. Em busca de uma possível definição para a escrita subalterna, Rocha percorre autores tão díspares como Althusser, Benjamin, Bourdieu, Certeau, Derrida, Engels, Freud, Marx, Spivak, e o próprio Graciliano Ramos, em sua versão cronista, para confirmar a hipótese de que o subalterno pode, sim, falar, mas não através de um discurso coeso e coerente. Como fica evidente no transcorrer de sua análise, ao subalterno resta uma forma de escrita (e de leitura) fissurada, plena de descontinuidades, porém factível. Esse discurso essencialmente precário deve ser compreendido, de acordo com a advertência do autor, não como sintoma de mediocridade ou falha de caráter; pelo contrário, deve ser (re)conhecido e apreciado como modelo de cognição. As personagens de Graciliano Ramos são exemplares para comprovar que suas práticas de escrita e de leitura mobilizam um modo de conhecimento específico, o que acaba por corroborar o forte argumento de Rocha: no caso dos subalternos, subjetividade sempre significa sujeição. Se, à primeira vista, tal argumento parece redutor e incontornável, é preciso convir que, de fato, os narradores dos romances de Ramos estão sujeitos à sujeição. Mais do que isso: sua dificuldade de afirmação de identidade deságua, para utilizar a expressão de Freud, em um falso reconhecimento, já que seu discurso é constituído por vozes que lhes são alheias. A quem se sujeitam os subalternos? De quem são as vozes inerentes ao seu discurso? Como se daria esse radical...

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