
Violência atmosférica e violências subjectivas: uma experiência pessoal
2011; National Association of Post-Graduate Research in Social Sciences; Volume: 26; Issue: 76 Linguagem: Português
10.1590/s0102-69092011000200013
ISSN1806-9053
Autores Tópico(s)Memory, Trauma, and Testimony
ResumoSamora Machel tinha a intuicao desses peri-gos ao advertir-nos com frequencia de que as his-torias pessoais, por quanto fossem importantes, so ganhavam sentido quando reconstruidas em conjunto, no quadro da gesta coletiva. A opiniao de Michael Pollack, que Samora nao tinha lido, e convergente: a memoria, como fixacao da ora-lidade subjetiva, e na realidade, diz ele, um “fe-nomeno construido coletivamente e em mutacao constante” (Pollack, 1992).Ver-nos na conjuntura presente – com as ex-periencias acumuladas sobre as quais vamos refle-tindo, sempre com a preocupacao de evitar erros cometidos e insuficiencias detectadas – faz-nos re-construir permanentemente o passado, incorporan-do os ensinamentos no patrimonio que carregamos. A erosao do tempo vai tornando cada vez menos perceptivel a linha que divide a memoria pessoal da memoria coletiva. Este processo de reconstrucao do passado exige o mais rigoroso esforco de apuracao e Olhar para a propria experiencia de vida afigura-se, para mim, um exercicio povoado de riscos. A memoria e uma vereda plantada de mi-nas que, ao menor passo inadvertido, te podem rebentar sob os pes deixando graves mutilacoes ou cancelando mesmo, de forma definitiva, o ca-minho percorrido. O que foi cada momento das experiencias que provei perde os contornos na multidao de referencias, representacoes, transfe-rencias, projecoes, racionalizacoes quando as lem-brancas pessoais, inevitavelmente temperadas pela imagem que cada um tem de si, se entrelacam na memoria coletiva de um grande acontecimento como foi a libertacao de um pais e o lancamento das bases de um projeto nacional.
Referência(s)