Artigo Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

Raça, racismo e direitos humanos

2005; UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL; Volume: 11; Issue: 23 Linguagem: Português

10.1590/s0104-71832005000100015

ISSN

1806-9983

Autores

Francisco M. Salzano,

Tópico(s)

Genetic Mapping and Diversity in Plants and Animals

Resumo

Discussoes sobre o conceito de raca, inicialmente proposto para aplicacao na especie humana por George Louis Leclerc de Buffon (17071788), continuam sem sinal de arrefecimento. Recordo-me muito bem do drama que foi a redacao final do documento de quatro paginas adotado oficialmente pela Unesco sobre os aspectos biologicos da raca, e aprovado em 18 de agosto de 1964. Eu fazia parte de um grupo selecionado de 22 especialistas de todos os continentes, reunidos em Moscou para a tarefa. E asseguro que alcancar a unanimidade requerida nao foi facil, mesmo depois de sete dias e meio de exaustivas discussoes formais e informais (Biological…, 1965). O problema todo e que ha um conceito biologico e um conceito social de raca. Nao adoto a posicao de Pena e Bortolini (2004) de “que racas humanas simplesmente nao existem”, e a divergencia de opiniao relacionase a propria definicao de raca em si. O conceito deriva diretamente daquele de subespecie, que classicamente requer apenas que o agregado de populacoes locais habite um territorio especifico e difira taxonomicamente de outras populacoes da especie. O grau dessa diferenca so poderia ser determinado atraves de taxonomistas experientes com a especie em questao e afins (Mayr, 1963). Voltando ao caso humano, vou me permitir o relato de mais uma experiencia pessoal. No curso de trabalho de campo realizado em 1969 entre os Mekranoti, um subgrupo kayapo, encontramos um homem branco (ruivo!) que havia sido capturado na infância pelos indios e adotara de maneira total o modo de vida da tribo, inclusive casando com uma india, da qual tinha tres filhos. Obviamente a caracterizacao genetica do mesmo era importante para a avaliacao de toda a populacao e o seu sangue foi coletado, como o de toda a sua familia e colegas. Aliquotas dos mesmos foram enviadas para estudo parcial nos EUA, e uma semana depois chegava-nos uma carta incisiva de la: “O que e isto, voces misturaram sangue de algum branco na amostra

Referência(s)