Artigo Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

A ausência de ciúme como um ideal cultural: reflexões clínicas sobre a fragilidade subjetiva frente ao amor na atualidade

2012; UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO; Volume: 22; Issue: 2 Linguagem: Português

10.1590/s0103-73312012000200019

ISSN

1809-4481

Autores

Marília Etienne Arreguy, Cláudia Amorim Garcia,

Tópico(s)

Psychotherapy Techniques and Applications

Resumo

Discute-se largamente, na literatura psicanalítica e no meio acadêmico, de modo geral, sobre o declínio das tradições, do respeito às e respaldo social das instituições, e sobre a desqualificação da autoridade paterna na contemporaneidade. Tributário do romantismo e do individualismo forjados na modernidade, o amor romântico enquanto valor cultural e último refúgio subjetivo também se encontra em ruínas. A sexualidade enquanto absoluto prazer, multiplicidade e busca de sensações, é projetada cada vez mais como condição para as relações ditas amorosas. Diante desse cenário, partimos de uma discussão teórica e de vinhetas clínicas, a fim de argumentar que o ciúme é um afeto "fora de moda", cujas manifestações sintomáticas podem ser associadas ao modo como o erotismo é regido na atualidade. A ausência de ciúme desponta como um novo ideal para o amor, não mais apenas romântico, porém, antes de mais nada, narcísico, erótico, múltiplo e excessivo. A partir de estudos psicanalíticos sobre o amor e o ciúme, pretendemos então refletir como o modelo cultural narcísico atual permeado pelos restos de um romantismo recrudescente afeta a subjetividade. De modo ambíguo, a "ausência de ciúme" e seu oposto correlato "ciúme primitivo" oscilam entre si como expressões marcantes da fragilidade nas relações amorosas atuais.

Referência(s)