
Pelo sentido da vista: um olhar gay na escola
2008; Currículo sem Fronteiras; Volume: 9; Issue: 2 Linguagem: Português
ISSN
1645-1384
Autores Tópico(s)Gender, Sexuality, and Education
ResumoNesta dissertacao apresento uma pesquisa com estudantes de uma escola estadual na cidade de Pelotas/RS, em que discuto os efeitos de identidades sexuais nao normativas no curriculo. A problematica teve seu primeiro movimento impulsionado pelas manifestacoes de desconforto e homofobia com relacao a um grupo especifico de tres estudantes gays na comunidade escolar em que atuo como professora. Utilizo como referencia o pensamento de Michel Foucault, especialmente a construcao historica e discursiva de conceitos como sexualidade, identidade, diferenca e normalidade que tem servido para criacao e manutencao de padroes de conduta. A partir dos depoimentos do grupo de estudantes, abordo a compulsoriedade da identidade heterossexual na escola e algumas estrategias que permitem vazar esse discurso. Desenvolvo minha argumentacao com base no potencial desestabilizador desse grupo, que desacomoda o cotidiano escolar, na intencao de pensar o impensavel no curriculo. Esse trabalho partiu da visibilidade de identidades sexuais nao normativas que fogem a suposta regra da heterossexualidade compulsoria a concepcao de que a posicao identitaria heterossexual e um dado da natureza e pressuposto universal do ser humano desafiando a tendencia normalizadora e homogeneizadora da educacao pelo traco da diferenca. A forma como esse grupo de estudantes se posiciona e constroi seus corpos cruza as fronteiras do masculino e feminino, se apresentando como diferenca que escapa as classificacoes binarias e desnaturalizando as identidades sexuais e de genero que se baseiam em principios biologicos definidores de machos e de femeas. Diferenca que atravessa a norma e e irredutivel a identidade, que apaga a separacao entre natureza e cultura, mostrando que nao ha nada alem desse ultimo termo. No sistema de significacoes que e o curriculo, a producao conjunta da identidade e da diferenca se da a partir de concepcoes e saberes considerados legitimos, justificados pelos pressupostos medicos, biologicos, anatomicos e de genero. Considero que, ao se apresentarem como a diferenca que confronta a sexualidade normativa, diferenca que o curriculo tenta assimilar e despotencializar atraves de sua reducao a diversidade tolerada, os sujeitos da pesquisa levam o imprevisto para a escola, possibilitando que se pense o curriculo como local tambem de desconstrucao das identidades. Nessa direcao, considero relevante pensar uma educacao nao heteronormativa produtora de diferencas que desconstrua e/ou produza outras identidades, ao inves de tentar cristaliza-las.
Referência(s)