Artigo Acesso aberto Revisado por pares

Notas sobre o método crítico de Gilda de Mello e Souza

2006; UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO; Volume: 20; Issue: 56 Linguagem: Português

10.1590/s0103-40142006000100021

ISSN

1806-9592

Autores

Otília Beatriz Fiori Arantes,

Tópico(s)

Literature, Culture, and Criticism

Resumo

311 O PREFACIAR, em 1987, O espirito das roupas ‐ primeira edicao em forma de livro de uma tese sobre A moda no seculo XIX, que sua autora praticamente relegara a um exilio de 37 anos numa separata da Revista do Museu Paulista ‐, Alexandre Eulalio relembra o estado de verdadeiro “fervor intelectual” com que um ensaista da envergadura de Augusto Meyer concluira a leitura daquele texto, se perguntando quem poderia ser afinal a autora daquele trabalho inteiramente fora do esquadro academico, tanto pela originalidade tematica quanto pela excepcionalidade da prosa. Esta claro que Gilda de Mello e Souza sempre soube do carater desviante daquele estudo em relacao as normas universitarias predominantes na epoca, para nao falar da impressao de futilidade que o assunto costumava produzir na austera e prolixa sociologia de seu tempo. Se hoje ficou muito mais facil admirar sem condicoes esse milagre academico de meio seculo atras, o que, no entanto, ja nao esta mais ao nosso alcance, nao digo nem repetir, e a possibilidade mesma de emendar, ainda que remotamente, na fluencia inventiva de sua prosa de ensaio, na qual, para alem do talento de cada um, estava sedimentada a experiencia social e intelectual de toda uma geracao que aprendera a pensar imaginando as virtualidades de um pais ainda em formacao. Sendo essa a matriz historica do irrepetivel, nao penso desfigurar o espirito livre do ensaismo da autora, se destacar, para efeito de analise e interpretacao de sua originalidade, uma questao aparentemente preliminar que se poderia chamar de “metodo”. Como se vera, igualmente idiossincratico. Ha exatamente vinte anos saia o livro do historiador italiano Carlo Ginzburg, Mitos, emblemas, sinais. Lembro-me de Gilda comentar o quanto se sentiu lisonjeada reencontrando num autor famoso uma explicacao erudita de dois metodos de abordagem da obra de arte que lhe eram por assim dizer desde sempre como que congenitamente proprios e que, alem do mais, nao gozavam de muito prestigio entre os criticos locais, a saber: a arqueologia visual dos mestres da escola de Warburg e o metodo indiciario praticado pelos connaisseurs, notadamente pelo mais conhecido deles, o medico italiano do seculo XIX, Giovanni Morelli. Um pouco por temperamento, mas sobretudo por uma escolha muito meditada, Gilda sempre valorizara, na interpretacao das obras, aquilo que aparentemente era desimportante e que nao aparecia de imediato numa primeira leitura ou a olho nu, os pequenos indicios a serem perseguidos, como as pegadas, por um caca

Referência(s)