Artigo Produção Nacional Revisado por pares

Experiências brasileiras com TVs comunitárias

2005; Grupo Comunicar Ediciones; Volume: 13; Issue: 25 Linguagem: Português

10.3916/25883

ISSN

1988-3293

Autores

Valter Filé,

Tópico(s)

Cultural, Media, and Literary Studies

Resumo

Este texto pretende apresentar algumas experiencias brasileiras de uso da linguagem audiovisual – TVs comunitarias, TVs de rua – a partir de dois projetos: a TV Maxambomba e a TV Pinel e seus ecossistemas comunicativos. A partir da minha insercao como membro de suas respectivas equipes, tenho buscado interlocucoes entre os conhecimentos que estes trabalhos me propiciaram e as questoes que rondam fazeres pedagogicos cotidianos de muitas escolas brasileiras. Questoes que relacionam-se com as discussoes sobre a televisao, os usos da linguagem audiovisual em praticas comunicacionais com pequenos grupos, a lida com as tensoes das relacoes interculturais e das possibilidades de pensarmos sobre a producao de conhecimentos. A TV Maxambomba – 1985-2000 – atuou na regiao da Baixada Fluminense, zona periferica do Rio de Janeiro, considerada pela midia comercial como zona pobre e violenta. A ideia inicial da TVM era de ajudar os moradores a discutirem seus problemas e, consequentemente, que pudessem organizarem-se em busca de seus direitos de cidadania. Com um telao sobre uma Kombi, percorria-se os diferentes bairros onde eram feitas exibicoes, ao anoitecer. Pretendia-se: provocar audiencias publicas ajudando a recuperar os ajuntamentos populares que haviam sido reprimidos pela ditadura, recem finda; atraves da gravacao de programas com os moradores dos bairros, introduzir outras imagens, na tela, questionando as imagens assepticas de um Brasil branco, de olhos claros e macho; ajudar a trabalhar a auto-estima de uma populacao fortemente vilipendiada que so aparecia na televisao em caso de tragedia e em todas as situacoes que pudessem ratifica-la como feia, violenta, como uma massa amorfa. A equacao era simples: se a midia tradicional mostrava as miserias daquele lugar, como generalizacao, nos, da TVM, mostravamos os fazeres cotidianos das gentes - como mulheres de um determinado bairro faziam para resolver problemas de desemprego, criando uma cooperativa de costura e ao mesmo tempo criavam um espaco educativo-recreativo para os filhos; os artistas, os grupos culturais e as experiencias de jovens na lida com seus problemas. Em 1995, a partir da experiencia da TVM, fomos convidados pelo Ministerio da Saude para ajudarmos a pensar um projeto de uso do video, num hospital psiquiatrico. A TV Pinel nasce em 1996 nos ventos da luta antimanicomial. Trabalhadores de saude mental, familiares, loucos e varios setores do poder publico, articulavam a reforma psiquiatrica, que entre outras pretensoes, buscavam atacar as perversidades dos lucrativos negocios dos manicomios privados e o paradigma que sustentava a centralidade do saber medico, de tratamentos violentos e da exclusao fisica e simbolica. A Reforma, de saida, aspirava por novas interlocucoes, a convocacao de saberes interdisciplinares, do fechamentos dos manicomios e a busca de novas maneiras de relacionamentos com os sofrimentos psiquicos. Dentro do hospital Philippe Pinel, a TVP tem envolvido em suas atividades, usuarios dos servicos, funcionarios e tecnicos. Materializa-se como um espaco de interacao que se da, nao a partir das relacoes e dos papeis desempenhados por cada um dentro da instituicao, mas pelas demandas de projetos de producao de videos.

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