Artigo Acesso aberto

Notas sobre humanização e biopoder

2009; Faculdade de Medicina de Botucatu (Unesp); Volume: 13; Issue: suppl 1 Linguagem: Português

10.1590/s1414-32832009000500033

ISSN

1807-5762

Autores

Antonio Lancetti,

Tópico(s)

Psychology and Mental Health

Resumo

A encomenda de escrever um texto para o encontro nacional depesquisadores, que se destina a discutir a politica de Humanizacao no SistemaUnico de Saude (SUS), soa-me bastante perturbadora.Em primeiro lugar, porque nao sou pesquisador, nem sequer possuo diploma demestre.Em segundo, nao conheco absolutamente nada a respeito do Programa deHumanizacao do SUS, nunca participei dele. Tenho conhecimento de suaexistencia na gestao de Jose Serra, mas nunca soube como funcionava, tampoucocomo funciona atualmente.Em terceiro, devo confessar que, apesar de ter tido formacao crista, ou talvezpor ter tido – estudei em colegio religioso dos seis aos nove anos de idade –,sempre desconfiei da palavra humanizacao.Na formacao marxista, aprendemos a ter uma atitude critica a respeito de todasas formas de cuidado, assim como dos diversos tipos de Estado.Em outras palavras, nos, que eramos contra a propriedade privada, a familia, oEstado e seus aparelhos ideologicos, estaremos reunidos nas terras onde o padreJose de Anchieta criou sua Escola, para discutirmos a politica de humanizacaoexercida pela maior organizacao sanitaria da America Latina, o SUS.Talvez o padre Jose de Anchieta, alem de inaugurar a literatura brasileira, tenhasido tambem um dos precursores do que hoje chamamos biopolitica no Brasil; suaobra teatral era direcionada para catequizar indios.Um dos sentidos que Antonio Houaiss da a palavra humanizar e amansar,amansar animais.Jose de Anchieta tambem escreveu uma obra poetica nos momentos em quese encontrava cativo dos indios tamoios, sem biblia, sem terco, tentado pelabeleza do corpo das mulheres que o rodeavam. Os poemas a virgem, escritos naareia, envoltos em erotismo, ajudaram nosso mentor a elaborar uma politica dedominio de si, de seu corpo, que, segundo a tradicao, morreu casto e criou corposde paranoicos doces que marcaram fortemente a civilizacao brasileira.A acao da organizacao militar constituida pelos jesuitas deixou marcas peloBrasil, e foi precisamente em um local que levava seu nome e em um momentoepico da historia da saude mental brasileira que nos confrontamos com o paradoxodo conceito de humanizacao.

Referência(s)