Artigo Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

Dentes da desigualdade: marcas bucais da experiência vivida na pobreza pela comunidade do Dendê, Fortaleza, Ceará, Brasil

2007; Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz; Volume: 23; Issue: 6 Linguagem: Português

10.1590/s0102-311x2007000600013

ISSN

1678-4464

Autores

Thiago Pelúcio Moreira, Marilyn Kay Nations, Maria do Socorro Costa Feitosa Alves,

Tópico(s)

HIV/AIDS oral health manifestations

Resumo

Este estudo antropológico investiga a experiência vivida das doenças bucais no contexto da pobreza no Nordeste brasileiro. Durante seis meses em 2004, foram conduzidas entrevistas etnográficas, narrativas e observação participante com 31 moradores do Dendê, comunidade de baixa renda em Fortaleza, Ceará, analisadas pelo método hermenêutico-dialético. Revelou-se que as precárias condições de vida dificultam priorizar o cuidado em saúde. Embora sofram da dor dentária, ir ao dentista é percebido com um luxo, não um direto do cidadão. O difícil acesso ao serviço e restauração de má qualidade, favorecem a extração dentária como mais resolutiva. A deterioração da saúde bucal é lamentada pelos moradores que buscam ajuda de clínicas populares, políticos e curandeiros. A experiência da doença dentária diferencia de acordo com a classe, deixa marcas bucais da iniqüidade e prejudica a auto-estima e inclusão social. "Tratar" os dentes da desigualdade nesse contexto exige aprofundar a compreensão dos determinantes sociais da saúde, reduzir injustiças no acesso aos serviços de qualidade, remover estigmas que desmoralizam e fortalecer a viva voz da comunidade frente às forças estruturais que afetam sua vida.

Referência(s)