
MENINOS NO ESPELHO
2010; Issue: 7 Linguagem: Português
10.11606/issn.1981-7169.crioula.2010.55264
ISSN1981-7169
Autores Tópico(s)Literature, Culture, and Criticism
ResumoO mar espelhou meu rosto. Me vejo, mas nao reconheco as marcas de expressao. O mar nao envelhece, aguas claras batendo em minhas pernas firmes. Eu, ao contrario, vou movendo meu reflexo no tempo, vincando meu sorriso. E, tal qual anti-narciso, procuro outro rosto no mar. O meu ja nao me responde, procuro um menino. E acho. Um menino chegou a espreita e repetiu meu gesto. Cabeca-baixa pro mar e nada via. E peixe, tio? Tentei dizer que eu me procurava, mas nao havia reflexo em meu frustrado dialogo existencial. E peixe. Passou por aqui e foi para o Rio. Tem rio, tio? Aqui nao e mar, e baia? O Rio maiusculo, expliquei sem sucesso. A cidade que fica la do outro lado. Ah, sei. Sorte do peixe sair dessas aguas sujas, nunca sai. Olhos nos olhos. Olhou-me fixamente e, no fundo, pensei ter visto meu proprio rosto. As vezes ficamos presos a terra como plantas, com as raizes fincadas para sobreviver. Mas tambem somos peixes, temos ânsia de partir. Eu, homem, ainda nao percorri os caminhos do mundo. Eramos dois, eu e o menino, a querer atravessar o mar. Por que nao foi? Ninguem te levou? Olhei bem o menino e vi suas origens, quebrei a lente do espelho que nos unia e o vi em diferenca. Menino tem dez anos, cacula de familia grande. A mae cria seis filhos e trabalha na casa de uma tal Dona Ana. O pai pescador foi pela correnteza, um dia, a sereia levou. Mae diz foi a piranha, mas sei, foi sereia mesmo. O dinheiro curto e para comer e ir pro trabalho, da pra
Referência(s)