
O relacionamento entre pessoas e serpentes no leste de Minas Gerais, sudeste do Brasil
2010; Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de SP; Volume: 10; Issue: 4 Linguagem: Português
10.1590/s1676-06032010000400018
ISSN1678-7927
AutoresMario R. Moura, Henrique Caldeira Costa, Vinícius de Avelar São-Pedro, Vítor Dias Fernandes, Renato Neves Feio,
Tópico(s)Ethnobotanical and Medicinal Plants Studies
ResumoO conhecimento popular sobre as serpentes, incluindo as práticas adotadas em casos de acidentes ofídicos, foi abordado neste estudo etnozoológico realizado na região de Araponga e entorno da Serra do Brigadeiro, Mata Atlântica do Estado de Minas Gerais, região Sudeste do Brasil. Entre agosto e novembro de 2008 foram realizadas entrevistas com 50 moradores da zona rural de Araponga e 20 funcionários do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (PESB). Em relação ao perfil cultural e social, os grupos avaliados diferiram entre si somente quanto ao nível de escolaridade (maior entre os funcionários do parque), apresentando as mesmas distribuições em relação a idade e religião. Também se verificou menor nível de escolaridade entre os indivíduos mais velhos. Em geral, ambos os grupos de entrevistados demonstraram conhecimento adequado sobre prevenção e procedimentos em casos de acidente ofídico (78,2% afirmaram procurar atendimento médico em caso de ofidismo). A utilização de substâncias da medicina popular para tratamento de acidentes ofídicos mostrou-se uma prática em desuso, relatada por aproximadamente 21% dos entrevistados. A maioria dos entrevistados (57,14%) afirmou não saber diferenciar uma serpente peçonhenta de uma não peçonhenta, e 66,67% demonstraram reconhecer o período chuvoso como aquele com maior frequência no encontro com serpentes. O grupo "Araponga" mostrou-se mais hostil em relação a encontros com serpentes, com 43% dos indivíduos afirmando matarem o animal, contra apenas 5% do grupo "PESB". A escolaridade do entrevistado foi decisiva no tipo de atitude tomada diante das serpentes, sendo menos hostis os indivíduos mais instruídos. Pessoas com menos escolaridade apresentaram maior tendência a considerar todas as serpentes como perigosas, e estas se mostraram também mais hostis com estes animais. O maior contato com atividades científicas e educativo-ambientais parece ter sido decisivo para a maior tolerância com as serpentes por parte do grupo "PESB". A realização de atividades de educação-ambiental com a população das comunidades de Araponga pode ampliar a conscientização quanto à importância das serpentes, instruindo aqueles que ainda as consideram indiscriminadamente nocivas.
Referência(s)