
Resenha: Freud e Lévi-Strauss: influências, contribuições e insuficiências das antropologias dinâmica e estrutural
2013; UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA; Volume: 29; Issue: 4 Linguagem: Português
10.1590/s0102-37722013000400013
ISSN1806-9770
AutoresHenrique Fróes, Terezinha de Camargo Viana,
Tópico(s)Linguistics and Language Studies
Resumo2 Endereco para correspondencia: UnB/PCL, Campus Universitario Darcy Ribeiro, Departamento de Psicologia Clinica, ICC Ala Sul, Brasilia, DF, CEP: 70910-900. E-mail: henrique.froes@gmail.com Poucos pensadores das ciencias sociais mantiveram um dialogo tao profundo e constante com a psicanalise como Levi-Strauss. Desde a sua primeira grande obra – As estruturas elementares do parentesco – o antropologo belga elegeu Freud como um de seus interlocutores privilegiados na criacao e desenvolvimento da sua antropologia estrutural. Alguns autores chegam a afirmar que o pai da psicanalise foi o autor que teve o maior impacto sobre a obra de Levi-Strauss (Badcock, 1975). A relacao entre a obra de dois dos maiores pensadores do seculo XX e abordada no livro de Espina Barrio (2008), intitulado Freud e Levi-Strauss: influencias, contribuicoes e insuficiencias das antropologias dinâmica e estrutural (Editora Massangana, 224 paginas, traducao de Luiz Nilton Correa). O livro e uma adaptacao da tese de doutorado do autor, que e professor titular de antropologia social na Universidade de Salamanca e mantem lacos constantes com o Brasil, ministrando cursos e participando de eventos academicos. No livro, Espina Barrio adota o procedimento de, primeiro, expor como um conceito ou tema aparece na teoria freudiana; em seguida, faz o mesmo em relacao ao pensamento de Levi-Strauss para, num terceiro momento, estabelecer as concordâncias e diferencas entre os dois. Desse modo sao abordados temas como o parentesco e o Complexo de Edipo, o totemismo, o mito e o inconsciente, alem das concepcoes antropologicas de cada autor. Autores diversos como Green, Lacan, Jung, Marcuse e Ricoeur, entre muitos outros, sao utilizados nesse debate, enriquecendo e problematizando os topicos abordados. Espina Barrio promove a retomada de um dialogo entre dois campos do saber psicanalise e antropologia muito pouco cultivado hoje em dia. Para os estudiosos da primeira, tal dialogo ajuda a iluminar aspectos fundamentais do pensamento freudiano, principalmente as obras que versam sobre a cultura e o social, especialmente Totem e Tabu. O controverso texto de 1913 ganha no livro contextualizacao historica (a influencia do evolucionismo cultural) e a necessaria critica em relacao a seus pressupostos antropologicos (como a ideia superada de que o totemismo fosse uma fase universal do desenvolvimento dos povos). Em diferentes momentos de sua trajetoria, Levi-Strauss tambem se ocupa desse texto freudiano, sem poupa-lo, principalmente em O totemismo hoje, de severas restricoes. Nele, o antropologo belga critica a tentativa de explicar a persistencia de costumes sociais por meio de emocoes ou pulsoes vividas singularmente pelos individuos, o que, na sua opiniao, “arruina a tentativa de Freud” (Levi-Strauss, 2003, p. 92). Apos ser devidamente depurado por Espina Barrio, Totem e Tabu sobrevive no seu status de mito psicanalitico. Outra obra fundamental de Freud, O Mal-estar na civilizacao, ganha uma nova leitura, oposta a que considera pessimista a visao freudiana da condicao humana. Baseado em ideias de Marcuse e da relativizacao inerente a pratica e ao pensamento antropologico, Espina Barrio (2008) defende que nao ha uma incompatibilidade entre cultura e sexualidade e que, por meio de um trabalho erotizado, e possivel canalizar os impulsos agressivos para fins sociais.
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