A insularidade real e imaginária em Ilhas contadas de Helena Marques
2014; University of North Carolina at Chapel Hill; Volume: 172; Issue: 1 Linguagem: Português
10.1353/hsf.2014.0054
ISSN2165-6185
Autores Tópico(s)Island Studies and Pacific Affairs
ResumoA insularidade real e imaginária em Ilhas contadas de Helena Marques Monica Rector A vida não é a que nós vivemos, mas a que nós recordamos quando queremos contá-la. Gabriel García Marquez (frase citada pela autora) Helena Marques é autora de cinco romances e de um livro de contos. Ilhas contadas (2007) contém dez contos que se passam entre o ir e o estar em ilhas diversas. A maioria dos contos são narrativas memorialistas, sobre um passado e suas consequências no presente, ou o gosto de mel ou de fel numa permanência temporária voluntária ou obrigatória numa ilha. As protagonistas são mulheres maduras e com a maturidade vem a sabeduria, a minimização dos conflitos e a saudades do tempo passado ou perdido. Os sentimentos e as emoções permeiam a narrativa e o desfecho é quase sempre premeditado, estudado ou analisado pelas personagens. Segundo entrevista que foi feita à autora (Correio da Manhã), há um amadurecimento ficcional que imita a realidade. “Era muito mais intransigente e exigente quando era mais nova. A idade tem essa grande vantagem de desvalorização de umas coisas e valorização de outras. Quanto mais vivemos mais sentimos que os afectos são as balizas das nossas vidas. Afectos e valores são as coisas mais básicas da vida, da família, da sociedade, do país e do mundo, isto funciona assim, como círculos concêntricos”. Viagens a ilhas Como área fechada de difícil acesso, em geral, a ilha é símbolo para algo especial ou perfeito. Ir ou sair de uma ilha implica uma viagem. Muitas são as formas e as razões que impulsionam um deslocamento, por isso “viagem” é uma termo polissêmico, [End Page 115] que pode abranger várias significações. As viagens podem ser reais ou imaginárias, mas convergem num ponto: “a busca pelo desconhecido, a surpresa da novidade, sejam as tensões originadas nas confrontações/defrontações de outras formas diferentes de ser, pensar, sentir, agir, realizar, imaginar” (Sousa 2). As viagens em Ilhas contadas tem origens diversas. A recordação do passado, o reavivamento da memória, o desejo da auto-descoberta, o esclarecimento de fato pressentidos, mas não sabidos, são algumas das motivações para os deslocamentos. A questão do imaginário das águas tem um valor simbólico. Ajudam a descobrir-se a si mesmo, buscando um sentido para a própria existência. O mundo insular nesta obra é símbolizado pelo casulo. A ilha é um casulo mágico, pois é o lugar de refúgio. A morte e a dor da separação aí se fazem presentes mais intensamente, devido à condensação dos sentimentos num lugar tão diminuto. Aí a essência pode revelar-se. A ilha também propicia o confronto entre dois espaços geográficos e traça a diferença entre o aspecto psicanalítico interno e o externo do indivíduo, mostrando uma nova dimensão do ser. É a “eterna busca de si mesmo, de modo que a própria inquietação do homem o impulsiona para o novo, para melhor compreender a vida em todos seus mistérios, na tentativa de ser mais feliz”, diz Mari Guimarães Sousa ao analisar O conto da ilha desconhecida de José Saramago (6). Já Maria Luísa Baptista, ao examinar a insularidade na novelística de Manuel Lopes, divide a insularidade em três aspectos: 1. a insularidade geo-histórica, 2. a insularidade sócio-cultural, e 3. a insularidade vivencial. A insularidade geo-histórica propicia uma insularidade sócio-cultural e uma insularidade existencial, isto é, vivencial. Já a insularidade sócio-cultural implica o afastamento da pátria, o esquecimento, e a necessidade de agir em difíceis circunstâncias enquadradoras (22). As três insularidades podem ser encontradas em Ilhas contadas. De todas estas insularidades, o isolamento faz parte integral e delineia uma consciência de identidade. Relacionar-se com a ilha e dentro da ilha exige uma adequação às condições ambientais. A insularidade vivencial é a mais acentuada em Ilhas contadas, apesar de n...
Referência(s)