Artigo Acesso aberto Revisado por pares

Acidentes de trabalho em indústria gráfica

1947; Instituto Oswaldo Cruz, Ministério da Saúde; Volume: 45; Issue: 1 Linguagem: Português

10.1590/s0074-02761947000100010

ISSN

1678-8060

Autores

João de Barros Barreto, Octávio G. de Oliveira,

Tópico(s)

Occupational Health and Safety Research

Resumo

Os autores analisam, dentro do campo da higiene industrial, as condicoes sanitarias de um grande estabelecimento de artes graficas no Rio de Janeiro - a Imprensa Nacional, o regime de trabalho ai instituido; e revistam, um a um, os processos industriais executados, especialmente atencao as causas potenciais de acidentes, que ai existem, e tambem aquelas cuja responsabilidade ja se positivou. Ressaltam, no ponto de vista doutrinario, os diversos fatores que podem interferir na ocorrencia desses infortunios de trabalho; e, mostrando como tem sido superestimada a culpabilidade das maquinas, realcam a importância dos fatores individuais - idade e experiencia do operario, doencas e defeitos fisicos, atitude mental, constituicao fisio-psicologica. Salientam como a evidencia da predisposicao a acidentes, que se reconheca existir, possibilita manter os operarios, ja em funcao ou pretendentes a emprego, debaixo de supervisao rigorosa; e oportuniza mesmo coloca-los melhormente, em tarefas que, no maximo, so lhes possam acarretar aciden¬tes de natureza leve. Mostram que, no periodo em estudo - 1942 a 1945, houve ao todo 1.123 acidentes na I.N., com o coeficiente geral de incidencia de 220.3 por 1.000 operarios expostos. O coeficiente de acidentes medios ou graves foi de 32 por mil, no mesmo periodo. Apontando ainda a descencao, no quatrienio, das curvas relativas tanto aos acidentes totais, como aos medios ou graves e aos produzidos por maquinas, dao a ver que a taxa, que retrata essa descida, e, para os primeiros, 3.5 e cerca de 10 vezes maior, respectivamente, que a dos acidentes por maquinas e dos medios ou graves. Mostra-se significativa a diferenca, entre a tendencia observada nas curvas dos acidentes em geral e dos medios ou graves; ja isso, porem, nao acontece, quanto a diferenca entre a primeira e a dos acidentes produzidos por maquinas. De fato, sendo os valores de t respec¬tivamente, dc 2.987 e 2.333, so o primeiro fica, na tabela de Fisher, acima do nivel de significância P = 5%, para v = 4 graus de liberdade (2.776). Na base dos coeficientes de incidencia por 1.000 operarios, em cada uma das secoes da Imprensa Nacional, verifica-se terem sido eles mais elevados nas oficinas de mecânica e carpintaria e na turma de eletricidade; ja quanto a oficinas propriamente graficas, mostram-se mais altos os coeficientes nas de rotogravura, estereotipia e impressao. Em 8 das 14 secoes, depois de baixa pronunciada do primeiro para o segundo ano e deste para o terceiro, alteou-se, no fim do periodo (1945), a curva de acidentes. So na oficina mecânica, veio ela sempre em declinio. Levando em conta a severidade dos acidentes, verifica-se que, no periodo em estudo, os coeficientes relativos aos acidentes medios ou graves, calculados sobre 1.000 operarios expostos, foram mais altos nas oficinas auxiliares de mecânica e carpintaria, seguidos, tambem aqui, dos ocorridos na rotogravura e estereotipia. Analisando os acidentes pelas suas causas imediatas, apontam os auto¬res ter tocado, no periodo e em qualquer dos quatro anos, as maquinas, a maior responsabilidade; seguiram-se-lhes os instrumentos e objetos traumatizantes, as quedas e choques. Todavia. na base do percentual dos acidentes medios ou graves sobre o total respectivo. regista-se haver contraste nitido, respeito a severidade, entre um primeiro grupo de causas de acidentes, compreendendo o esforco, os corpos estranhos (dada a sua frequente localizacao ocular) e os agentes causadores de queimaduras e um segundo grupo, englobando as de¬mais causas, salvo as maquinas, que ficam de permeio. A responsabilidade dos corpos estranhos e das queimaduras, como causas de acidentes de severidade, mostra o cuidado que devem merecer os recursos de protecao individual para os operarios. Tabulando por meses, e na base de horas de trabalho, os acidentes ocorridos, verifica-se que a maior taxa corresponde ao verao (146.2 por 1.000 horas de trabalho), seguindo-se-lhe o outono (122.0), vindo depois o inverno e a primavera, nesta ordem. Nao sendo, no Rio de Janeiro, cidade situada na zona tropical, tao nitida. como em outras de clima temperado, a diferenciacao estacional, tomaram os autores para comparacao os quadrimestres mais quente (dezembro a marco) e mais frio (junho a setembro), e verificaram que a taxa de acidentes no primeiro, de 136.8 por 1.000 horas de trabalho, contrasta com a relativa ao segundo periodo - 125.4. Levando apenas em conta os acidentes medios ou graves, nao mais se aponta a diferenca verificada: tocam, realmente, aos dois quadrimestres, as taxas de 17.2 e 19.7. E muito nitida, porem, a variacao no pertinente aos acidentes leves - 119.6 e 105.8, sobre os quais, segundo Osborne e Vernon, parece clara a influencia da temperatura ambiente: de fato, nas verificacoes desses investigadores, a frequencia relativa de acidentes subiu de 102 para 122, quando a temperatura ascendeu de 20°4 C a 25°2 C. No Rio de Janeiro, a temperatura media, no quadrimestre mais quente, foi dc 25°. 2 C e, no mais frio, de 20°.4 C, identicos os valores aos dos dados de Osborne e Vernon, como praticamente tambem o sao as taxas de acidentes leves, aqui e ali observadas em funcao de tais variacoes. Nao se mostrando de todo satisfatorios os dados de 123 das 209 fotometrias realizadas na Imprensa Nacional (59%), apontam os autores tornar-se dificil aquilatar a responsabilidade exata da deficiencia de iluminamento, nos acidentes ocorridos. Salientam, todavia, que, mau grado a construcao do edificio e as instalacoes de iluminacao artificial terem sido projetadas por tecnicos nesses assuntos, a verdade e que os esperados beneficios se viram prejudicados: em parte, pela colocacao, nem sempre a mais satisfatoria, de maquinas e operarios: tambem, porque muitos dos pontos de luz artificial estao inaproveitados e, ainda, por nao ter sido feita de maneira adequada a substituicao de unidades defeituosas. Ha a consignar, ademais, o descuido, por vezes grande, na limpeza dessas unidades e das superficies transmissoras de luz natural e a ocorrencia de ofuscamento para os operarios em diversas situacoes...

Referência(s)