O ensino de Geologia e a profissão de geólogo
2009; Volume: 4; Linguagem: Português
ISSN
1980-4407
Autores Tópico(s)Geography and Environmental Studies
ResumoNos ultimos anos o notavel renascimento da profissao de geologia no Brasil acompanhou a retomada do desenvolvimento economico, interrompendo os efeitos da chamada “decada perdida”. O fato fez as universidades se organizarem para formar mais geologos diante da grande demanda, por empresas, orgaos de governo e agentes publicos. Os desafios enfrentados pelos geologos integram variadas facetas do desenvolvimento social e economico do pais, mas o espaco profissional que a ele compete tem sido disputado de varios modos. A importacao pura e simples de geologos de outros paises para suprir a momentânea falta de geologos e desnecessaria. As universidades brasileiras demonstraram capacidade de enfrentar com sucesso a missao. E preciso ampliar expectativas e aumentar a uniao e a determinacao, em busca do fortalecimento dos cursos atuais. O aparecimento de novos cursos de graduacao depende de existirem condicoes adequadas para pleno funcionamento, ja que os desafios sao multiplos: reunir corpo docente de alto nivel, adquirir equipamentos, veiculos de campo e laboratorios e implantar a infra-estrutura minima para que aulas e atividades acontecam com naturalidade e eficacia. Terrae Didatica pode contribuir nesse campo, como suporte de difusao de experiencias e praticas educativas. Desde os anos 1960, a esmagadora maioria dos cursos brasileiros de Geologia continua a ser mantida por universidades publicas. A acelerada privatizacao do ensino superior nas ultimas decadas levou a proliferacao de cursos superiores, verdadeiras “maquinas de fazer dinheiro” em escolas privadas. Salvo diversas e bem-conhecidas excecoes, a educacao tornou-se um modelo de negocio , sobrepondo-se a missao institucional. Nenhum novo curso de Geologia e mantido por instituicao particular, mas a possibilidade nao esta afastada, se prosseguir o incremento da demanda por geologos, gerando pressoes em exames vestibulares das universidades tidas como de referencia. O geologo tem diante de si o desafio de ajudar a sociedade a conhecer melhor o mundo em que pisamos, sua origem e evolucao. A crescente concentracao urbana exige capacidade de atuar em campos aplicados a engenharia, meio ambiente e hidrogeologia. Os efeitos de certas catastrofes naturais podem ser minimizados, caso conhecimentos elementares da dinâmica natural – sob o ponto de vista da Geologia - fossem devidamente levados em conta pelas autoridades competentes. O processo de conscientizacao, tambem chamado de “alfabetizacao nas ciencias da natureza”, contudo, e lento e depende de muitas variaveis: uma delas e de geologos profissionalmente bem preparados. Alem dessas dificuldades, nao temos percebido a importância da difusao desse campo da Ciencia na escola basica. A educacao em escolas de nivel medio e fundamental nao desenvolve uma compreensao ampla de como o planeta funciona, condicao que ajuda a preparar criancas, jovens e adultos para o pleno exercicio da cidadania e contribui para diminuir desigualdades. Entre os anos 1950-1960 o aprendizado de Geologia fora impulsionado pelo Estado, que criou bem-sucedida Campanha de Formacao de Geologos (CAGE). Desde entao, os cursos de graduacao e pos-graduacao se fortaleceram, mas enfrentam dificuldades de toda ordem. Temos o orgulho de contar com grandes mestres e a competencia nacional tem sido internacionalmente elogiada e valorizada. Amadurecida, a Geologia exibe notavel vigor no Brasil, como ciencia e como profissao, fato comprovado nas inumeras reu-nioes, simposios e congressos tecnico-cientificos. O territorio, contudo, esta longe de ser mapeado e conhecido nos niveis atingidos por paises mais desenvolvidos. A reposicao de docentes e necessidade permanente: exigem-se novos mestres, capazes de contagiar os jovens de todas as idades que se aventuram a estudar Geologia. Para praticar Geologia, e preciso dispor de solida base cientifica, pleno dominio de tecnicas e uma certa dose de talento. A profissao e peculiar, porque os desafios e exigencias para o aprendizado e exercicio profissional sao igualmente distintos de outras profissoes de nivel superior. Os estudantes, com seu tipico entusiasmo e alegria, reconhecem o fato. Sabemos dar valor ao campo, o lugar onde se aprende Geologia. A brincadeira de que “Geologia se aprende pelos pes”, reflete a nocao de que, quanto mais o geologo caminha e percorre diferentes locais, mais aprimora sua capacidade de integrar informacoes e gerar conhecimento novo. O Estado, a quem cabe a funcao de regular a preparacao profissional, ainda nao definiu, no caso da Geologia, as diretrizes curriculares, causando preocupacao. Para ajudar a minimizar o problema, neste volume publicamos a versao corrigida e atualizada das Diretrizes Curriculares aprovadas pelo Forum Nacional de Cursos de Geologia, acompanhada de relatos de reunioes dessa entidade, entre 2006 e 2007. A revista Terrae Didatica , no volume 4, persegue a ideia de ser veiculo de comunicacao geocientifica da comunidade ibero-latino-americana, gracas a colaboracao de pesquisadores de universidades brasileiras e do exterior. O volume e integrado por contribuicoes de autores da Bahia, Parana e Rio Grande do Sul. Duas delas descrevem ricas experiencias e caminhos percorridos em diferentes disciplinas de curso de graduacao em Geologia: “Estrategia didatica classica aplicada a disciplina Geologia Introdutoria do curso de Geologia da Universidade Federal da Bahia” e “Ensino de tecnicas de analises de minerais com enfase na interpretacao de dados: teoria e pratica na formacao do geologo”. Outro artigo organiza informacoes e descreve uma classe mineralogica bastante especial e rara: a das “combinacoes orgânicas associadas ao hidrogenio”. Reproduzimos, ainda, conferencias do 1o Simposio de Pesquisa em Ensino e Historia de Ciencias da Terra , e III Simposio Nacional sobre Ensino de Geologia no Brasil , eventos realizados em Campinas, em setembro de 2007. Como as apresentacoes nao integram os anais dos eventos, decidimos publica-las neste volume e no proximo, tanto pela importância quanto pelo valor das concepcoes expostas. A primeira, “Perspectivas actuais sobre o ensino das ciencias: clarificacao de caminhos”, analisa as bases teoricas de diferentes concepcoes de ensino de Ciencias. O autor argumenta que, nas conexoes interdisciplinares entre educacao e ciencias, a metodologia de ensino e a pesquisa assumem grande importância. Em “Recursos Geoambientais y ciudadania”, o autor expoe as bases de um projeto de pesquisa que procura valorizar a articulacao entre universidade e comunidade, utilizando estrategias de formacao de cidadania por intermedio de intervencoes nas relacoes entre a sociedade e a natureza. Esperamos que a leitura dos textos seja proveitosa e estimule leitores e autores a contribuir ainda mais com as proximas edicoes.
Referência(s)