RELATOS SOBRE A HISTÓRIA DA GENÉTICA NA BAHIA
2008; Faculty of Medicine of Bahia; Volume: 77; Issue: 2 Linguagem: Português
ISSN
0016-545X
AutoresNadir Ferrari, Eliane S. Azevêdo,
Tópico(s)Gender, Sexuality, and Education
ResumoAs narrativas mais conhecidas sobre a historia da genetica no Brasil enfatizam a formacao de grupos de pesquisa em Curitiba, Sao Paulo e Porto Alegre e situam o inicio da formacao de comunidades de pesquisadores em genetica na decada de trinta e, especificamente, em genetica humana na decada de 50. Entretanto, a comunidade cientifica de Salvador teve um papel importante na historia da genetica humana brasileira e a genetica na Bahia e pelo menos tao antiga quanto a dos grupos do sul do pais. Na Bahia, a discussao cientifica em torno dos mecanismos da hereditariedade remonta ao final do seculo XIX. Em 1899, o medico Raymundo Nina Rodrigues, professor de Medicina Legal na Faculdade de Medicina da Bahia e membro da Sociedade Medico-Psicologica de Paris discutia as concepcoes de hereditariedade, de especie e de raca aquela epoca. Em seus livros “Mesticagem, Degeneracao e Crime” e “Animismo Fetichista dos Negros da Bahia”, editados em frances, encontramos passagens que mostram que Nina Rodrigues conhecia as teorias vigentes sobre evolucao, levantava genealogias, observava consanguinidade devida ao isolamento reprodutivo e causas ambientais do que era, na epoca, chamado “degeneracao”. Nas primeiras decadas do seculo XX, os pesquisadores baianos continuaram a produzir trabalhos envolvendo a genetica humana. Em 1927, enquanto Renato Kell liderava o movimento eugenico brasileiro no Rio de Janeiro, a Gazeta Medica da Bahia publicava nota sobre um trabalho de Octavio Torres envolvendo o estudo dos grupos sanguineos de 1.685 pessoas e comentando um trabalho anterior de Abelardo Duarte tambem com grupos sanguineos . Em 1947, antes, portanto, da publicacao do artigo de Newton Freire-Maia que marcou o inicio da formacao de uma comunidade de geneticistas humanos brasileiros, uma revista local publicava artigo de Jesse Accioly sobre anemia falciforme. Este artigo e hoje considerado o primeiro a atribuir heranca mendeliana a esta enfermidade, conforme sera visto adiante.
Referência(s)