Artigo Produção Nacional Revisado por pares

O acervo documental do museu do Colégio Municipal Pelotense e sua importância para a história da educação - The documentary collection of the museum of the Colégio Municipal Pelotense and its importance to the history of education

2015; Associação Sul-Rio-Grandense de Pesquisadores em História da Educação (ASPHE); Volume: 19; Issue: 47 Linguagem: Português

ISSN

2236-3459

Autores

Brasil Giana Lange do Amaral,

Tópico(s)

Rural and Ethnic Education

Resumo

O Colegio Municipal Pelotense - CMP - e uma instituicao criada em 1902 por iniciativa da Maconaria. Inicialmente foi instalado na antiga residencia de Miguel Barcellos, a rua que atualmente leva o seu nome, onde hoje esta a Escola Estadual Monsenhor Queiroz. Em 1903 passou a funcionar no casarao adquirido pela Maconaria, na rua Felix da Cunha esquina com Tiradentes, no predio que atualmente esta alugado para a Universidade Federal de Pelotas, permanecendo nesse local ate 1961, quando foi transferido definitivamente para a rua Marcilio Dias, esquina com a avenida Bento Goncalves. Ocupa hoje um amplo predio que abriga mais de tres mil alunos do ensino fundamental e medio. Atualmente o acervo documental dessa instituicao encontra-se em tres espacos que constituem o Museu do Colegio Pelotense: na Sala Luiz Curi Hallal, em uma sala no terceiro piso e outra no terreo. O museu compartilha o local com a associacao dos ex-alunos, que inicialmente constituiu esse espaco de memoria. E importante ressaltar a atuacao das associacoes de ex-alunos nas instituicoes escolares no Brasil, nao so no que diz respeito a manutencao da sua memoria e historia, mas como um grupo que costuma permanecer atento as necessidades das escolas, principalmente as escolas publicas. No Colegio Pelotense, essa associacao, fundada em 1941, tem atuado de modo relevante, desde a sua criacao, no que tange ao apoio as praticas realizadas no Colegio, assim como a constituicao da historia, memoria e identidade da escola. Nesse espaco estao expostos varios objetos que remetem a cultura escolar: mobiliario, uniformes, bandeiras, flâmulas, objetos de decoracao, objetos utilizados na rotina escolar e em suas praticas, fotografias de diretores, documentos escritos, ocorrendo exposicoes permanentes e temporarias ligadas direta ou indiretamente a cultura escolar do CMP. Outra sala onde tambem se encontra o acervo documental do museu se localiza no piso terreo, onde antes era um banheiro. O local enfrenta problemas de umidade, com circulacao inadequada de ar, ja que as janelas se localizam junto ao teto. Esse espaco foi transformado em sala para acolher os documentos que remontam a criacao do CMP, em 1902, ate os dias atuais. Sao caixas de documentos produzidos e recebidos pela escola no exercicio de suas funcoes. Nelas estao separados por decadas documentos da area contabil, livros de atas de diversas instâncias, livros de termos de compromisso e posse de funcionarios e professores, livros e fichas de pontos, folhas de chamadas, livros de matriculas, prontuarios de alunos, documentos pessoais de alunos, registros de diplomas, planos de aula. E importante afirmar que ao mesmo tempo em que se destaca a simplicidade do espaco que acolhe a documentacao que compoe o acervo historico do CMP, poucas sao as escolas publicas municipais que possuem tais espacos. Conseguir estes locais e disponibilizar carga horaria para os professores desenvolverem seus projetos ja e uma conquista. E uma decisao que depende da sensibilidade por parte dos gestores publicos no sentido de liberarem professores da sala de aula para realizarem outras atividades tambem tao necessarias ao espaco de escolarizacao, como e o caso do trabalho junto ao Museu. As atividades realizadas pelo Museu nao se esgotam nas exposicoes de sua materialidade. Esse tem sido um espaco agregador da historia da escola. Nao so da sua historia passada, estatica, imutavel, que fica nas prateleiras e arquivos, mas da historia viva, contada, construida, que faz emergir do possivel esquecimento fatos do cotidiano escolar de hoje e de outros tempos. E um espaco no qual quem tem historia para contar - e todos temos - retorna a escola para se encontrar com as novas geracoes e realizar o importante exercicio de rememorar, ou seja, trazer a memoria dos que aqui estao fatos e acontecimentos que se perderiam com o tempo. Assim, sao reforcados elos, lacos de identidade com uma instituicao centenaria e singular na comunidade pelotense. Atualmente, a partir dos projetos Acervos escolares: possibilidade de pesquisa, ensino e extensao no campo da Historia da Educacao e A modernizacao da matematica em instituicoes escolares de Pelotas-RS, coordenados por professores ligados ao Centro de Estudos e Investigacoes em Historia da Educacao - Ceihe - da Universidade Federal de Pelotas, vem sendo desenvolvidas atividades voltadas a salvaguarda, identificacao, higienizacao, digitalizacao e disponibilizacao do acervo em meios digitais. E importante esclarecer que nesse trabalho junto ao acervo do Museu do CMP o nosso interesse recai nas praticas educativas e culturais existentes no interior das escolas, associadas a importância crescente da abordagem sobre a historia, a memoria e a identidade dos diversos grupos que se formaram no interior dessas instituicoes, em especial a partir de suas praticas, discursos e da materialidade inerente ao espaco escolar que constituem sua cultura escolar. Para tanto, fazemos uso de metodologias de conservacao e organizacao documental, do campo da museologia e arquivologia, contando com um importante apoio tecnico da professora Vanessa Teixeira, professora do Curso de Museologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Essa atividade teve inicio com a retirada do material que estava no ginasio de esportes, embaixo das arquibancadas. Conseguiu-se, junto a direcao do CMP, que fosse liberada uma sala junto a biblioteca para fazermos a separacao, higienizacao e posterior organizacao e digitalizacao dos documentos. Apos a separacao dos documentos, foram identificados aqueles que poderiam ser doados ao Centro de Documentacao do Ceihe. Esses seriam aqueles papeis que, provavelmente, iriam para o descarte, uma vez que o Colegio nao pode guardar todo e qualquer material impresso que produz, pois carece de condicoes espaciais, de infraestrutura de armazenamento e de pessoal No que tange a esse material que esta sendo trabalhado, mesmo com as perdas sofridas nos ultimos anos, pode-se afirmar que ainda e consideravel o acervo escolar que remonta as primeiras decadas do seculo 20. Constata-se que nao ha muito material da primeira decada (1902-1910). Isso, provavelmente, foi resultado de um incendio que ocorreu na decada de 1920 e que destruiu grande parte da documentacao da secretaria do antigo predio do Ginasio Pelotense. Ressalta-se que estamos cientes de que o simples acumulo de documentos produzidos cotidianamente pela escola nao se constitui em ferramenta de preservacao do possivel esquecimento das experiencias vividas na instituicao. E preciso tornar os espacos depositarios desses materiais lugares de memoria (Nora, 1981) articulando as dimensoes material, simbolica e funcional desses residuos do cotidiano escolar em favor da construcao de um sentido coletivo para preserva-los. Isso significa buscar a justa medida entre a organizacao e o descarte, de modo a se constituir um elo de continuidade e funcionalidade no processo de salvaguarda.

Referência(s)