Artigo Acesso aberto Revisado por pares

Credo, crédito e género: economia do afecto entre mulheres retornadas (notas de trabalho de campo com mulheres retornadas no Uíge, Angola, Julho de 2015).

2015; Centro Scalabriniano de Estudos Migratórios; Volume: 23; Issue: 45 Linguagem: Português

10.1590/1980-85852503880004516

ISSN

2237-9843

Autores

Paulo Inglês,

Tópico(s)

Urban Development and Societal Issues

Resumo

Maria-Antonieta e uma mulher angolana nos seus discretos 50 anos, de olhos acentuadamente vivos mas com um olhar circunspecto e nostalgico. Apresenta-se como retornada; diz essa ultima palavra com uma quase resignacao e algum estoicismo. Fugiu com os pais da guerra anti-colonial de Angola contra os Portugueses, no final dos anos 60 do seculo XX, para a Republica Democratica do Congo (RDC). Nao se lembra do ano, mas era crianca, diz num portugues com acento frances e quicongo, lingua falada no norte de Angola e no sudeste da RDC. Como ela outros milhares de angolanos refugiaram-se no Congo ao longo do seculo XX. Nao foi apenas por motivo de guerra, corrige-me com afeto. De fato, a rigidez da administracao colonial que passava tanto pela usurpacao de terras de aldeoes no interior, a cobranca de pesados impostos e a obrigacao de trabalhos forcados nas plantacoes de cafe, fizeram com que muitos angolanos buscassem melhores condicoes de vida na RDC. No entanto, no inicio dos anos 60 deflagrou a guerra anti-colonial entre os movimentos nacionalistas angolanos e o exercito portugues que terminou 1975, com a proclamacao da Independencia de Angola, seguindo-se outra guerra, desta vez interna e civil, que terminou apenas em 2002, e tambem o retorno de milhares pessoas. Pode-se falar, portanto, de sucessivas vagas de refugiados e retornados ao longo de um seculo. No entanto, so a partir de 2002 e que a vaga de retornados se torna mais constante e mais estavel mas nem por isso menos conturbada e complexa.

Referência(s)