Artigo Revisado por pares

Teatro setecentista e construção identitária na Galiza: Estratégias e processos de seleção no discurso historiográfico regionalista do século XIX

2015; University of North Carolina at Chapel Hill; Volume: 173; Issue: 1 Linguagem: Português

10.1353/hsf.2015.0015

ISSN

2165-6185

Autores

Lucia Montenegro-Pico, Laura Blanco de la Barrera, Raquel Bello Vázquez,

Tópico(s)

Media, Journalism, and Communication History

Resumo

Teatro setecentista e construção identitária na Galiza:Estratégias e processos de seleção no discurso historiográfico regionalista do século XIX Lucia Montenegro-Pico, Laura Blanco de la Barrera, and Raquel Bello Vázquez No decorrer da nossa pesquisa centrada no estudo do campo teatral na Galiza do século xviii,1 encontramos sólidas evidências da existência de uma atividade teatral estável, onde companhias teatrais itinerantes representavam regularmente óperas e peças teatrais cómicas. Apesar da acessibilidade das fontes que documentam este fenómeno, constatamos que esta produção teatral foi ignorada pela historiografia literária galega desde as suas origens, desde a articulação de um discurso historiográfico sobre Galiza confecionado por fabricadores de ideias (Even-Zohar, “La Fabricación de repertorio”) do movimento regionalista e do quadro filosófico e ideológico romântico que dominava a Europa do século xix.2 O objetivo deste artigo é oferecermos hipóteses explicativas sobre estas dinâmicas e estratégias discursivas que não assumem esta produção como objeto de estudo e, por extensão, como parte da história literária galega. Delimitando o corpus estudado a manuais, histórias e tratados de literatura, neste artigo procederemos a: (1) demonstrar que existem fontes bibliográficas acessíveis que documentam a existência de uma intensa atividade teatral, para posteriormente (2) analisar o tratamento historiográfico dispensado a esta produção no período regionalista do séc. xix, em que amadurece um discurso histórico sobre e desde [End Page 145] Galiza, (3) examinar os diferentes posicionamentos adotados pelos ideólogos do período e, finalmente (4) formular hipóteses que expliquem os conflitos que subjazem na complexa configuração historiográfica do século xix. No século xviii, o teatro representava a principal, ou por vezes única, fórmula de divertimento, para além de ser decisiva a sua função como garante de uma sociabilidade de natureza política (De Carvalho; Bello Vázquez, “Theatrical Repertoires”). O Reino da Galiza não ficou de parte destes processos sociais e culturais. Numerosas companhias itinerantes, de origem italiana ou espanhola, tendo obtido a permissão dos governos municipais, instalavam-se temporariamente nas principais cidades galegas (fundamentalmente nos núcleos da Corunha, Ferrol, Santiago de Compostela e Pontevedra), onde encenavam as suas peças teatrais e operáticas,3 veiculadas em espanhol e italiano – e em latim nos espaços de culto (para esta questão, veja-se: Pérez Constanti, Carreira, Sánchez García e Vigo Trasancos); sendo verificada uma atividade teatral intensa e estável a partir da segunda metade do século xviii. As fontes que testemunham esta atividade teatral datam mesmo do século xix. Existem referências em obras de historiografia geral sobre a Galiza deste período (em Vedia y Goossens, Benito Vicetto ou Tettamancy Gastón), alusões aos títulos das obras e até encontramos uma crónica sobre esta diverção numa das obras do corpus, na Memoria crítico-bibliográfica sobre el Teatro Regional Gallego, de Carré Aldao:4 En 1766, Nicolás Settaro y, en 1771, Alfonso Nicolini y Nicolás Ambrosini tuvieron que luchar con grandes inconvenientes, no por parte del pueblo, sino de ciertas autoridades para que se les permitiese trabajar en la Coruña con su “compañía de virtuosos de música” (opera bufa que era lo que privaba entonces). (25) Apesar destas fontes disponíveis, temos verificado (Vid. Montenegro-Pico) que existe uma omissão reiterada do fenómeno teatral como objeto de estudo historiográfico desde o século xix e que as causas desta exclusão são complexas, vinculadas a critérios ideológicos e identitários; de aí a necessidade do estudo e desconstrução destas dinâmicas historiográficas. O período delimitado corresponde-se com a etapa histórica em que se desenvolve a doutrina regionalista na Galiza: a segunda metade do século xix e primeira década do xx até o assentamento das bases do nacionalismo galego, com o programa das Irmandades da Fala (1916) e os posicionamentos, nesse mesmo...

Referência(s)
Altmetric
PlumX