Avanços das pesquisas com carrapatos no brasil
2012; Volume: 10; Issue: 2 Linguagem: Português
ISSN
1994-9081
Autores Tópico(s)Insect and Arachnid Ecology and Behavior
ResumoO conhecimento dos carrapatos brasileiros, sob a otica da sistematica, se deveu e grande parte aos trabalhos de Koch e Neumann (entre 1844-1911) e as pesquisas iniciadas no Instituto Oswaldo Cruz-IOC por Rohan Aragao. Em 1909, junto com a Colecao Entomologica do IOC (CEIOC) em Manguinhos, foi criada a colecao de carrapatos com um acervo de 40 especies. Aragao contribuiu com 6.833 amostras de carrapatos distribuidos em 11 generos. A Colecao tinha por finalidade o estudo sistematico dos carrapatos no Brasil. Nos anos que se seguiram foram realizadas descricoes de varias especies novas e publicados varios outros trabalhos como a tese de Rohr sobre �Estudos sobre Ixodidas do Brasil� e a primeira descricao de partenogenese em carrapatos. Durante os anos 30, Dr Fonseca, medico parasitologista, iniciou a coleta de acaros do Instituto Butantan, em Sao Paulo. Em 1963, a colecao ja contava com aproximadamente 80.000 exemplares, dos quais aproximadamente 30% eram carrapatos. Mesmo apos morte de Aragao, Fonseca em 1961 publica importante obra na VIII Nota de ixodologia a �Lista e chave para os representantes da fauna ixodologica brasileira�, o qual serviu e ainda serve de referencia no estudo destes artropodes. Outras pesquisas importantes seriam publicadas por Dias (medico, parasitologista), Travassos e Vallejo-Freire nos anos que se seguiram, como o da criacao de Amblyomma cajennense com objetivo de avaliar seu papel como principal transmissor e reservatorio do agente da Febre Maculosa de Sao Paulo e preparo de vacina contra esse agente. Entre os anos de 1970 e 1980 destacam-se estudos de biologia, ecologia e controle do carrapato do boi, Rhipicephalus microplus. Varios pesquisadores do sul do pais principalmente do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro (UFRRJ) se destacam nesse sentido, os primeiros pelo grande problema que este carrapato representa para pecuaria bovina na regiao e a necessidade de seu combate; os demais, por albergar o primeiro (1965) curso de pos-graduacao na area de parasitologia veterinaria, onde um nucleo de estudos nessa area estava estabelecido. No periodo entre 1980 a 1990, o Dr. Serra Freire da UFRRJ da reinicio aos estudos com A. cajennense, cujo destaque era a saude animal; sao realizados estudos de sazonalidade e comportamento dos estadios nao parasitarios em pastagens e o parasitismo em bovinos leiteiros no estado do Rio de Janeiro. O Dr. Faccini e equipe retomam estudos de morfologia com populacoes no Brasil de R. microplus e posteriormente R. sanguineus com registro da presenca de variacao intraespecifica em caracteres importantes para o diagnostico de ambas especies. Em 1985 foi levantada suspeita de febre maculosa brasileira em tres individuos residentes no Municipio de Pedreira com casos de obito e em 1988 foi isolada Rickettsia de um caso de febre maculosa proveniente da zona rural de Mogi das Cruzes, SP. E novamente os carrapatos foram foco da atencao na area de saude coletiva. Entre 1989 e 1991, a colecao do Museu de Historia Natural Capao da Imbuia (MHNCI) estava sob a responsabilidade de Barros-Battesti, e posteriormente de Arzua. Esta e uma dos quatro maiores colecoes brasileiras em numero de exemplares, criadas durante a ultima decada. Em 1992, Serra-Freire por convenio de cooperacao tecnica e cientifica foi cedido a Instituto Oswaldo Cruz, e deu inicio a recuperacao da Colecao de carrapatos. Nesta ocasiao passa a ter dois acervos; um fechado a Colecao Henrique Aragao (Colecao Historica) e outra (colecao aberta) a nova Colecao Ixodologica para fins depositarios. Em 1993, na UFRRJ e defendida tese por Famadas (Redescricao de A. cajennense com uso de microscopia eletronica de varredura) onde e realizado o primeiro estudo de microscopia eletronica com carrapatos no Brasil. Em 1994, Arzua et al. no Parana, Rojas et. al. (1995), Minas Gerais publicam sobre carrapatos nas aves silvestres com registro de Ixodes auritulus e de A. cajennense, respectivamente. Em 1995, a colecao do Instituto Butantan (IBSP), Sao Paulo, e assumida pela Dra. Barros-Battesti uma das mais importantes da America Latina, devido ao estado de conservacao de suas especies, e inclusao de material do tipo, nao so do Brasil, mas tambem de outros paises. Ainda na decada de 90 ja se destacam nucleos importantes de estudos com carrapatos nas regioes Sul e Sudeste. Isso se deveu principalmente a ressurgencia da Febre Maculosa no trecho Sao Paulo-Minas Gerais e posteriormente, alguns poucos focos no Rio de Janeiro. Em 1997, a Dra. Masuda lidera trabalhos com anticorpos monoclonais contra R. microplus e alavanca uma serie de pesquisas buscando a producao de uma vacina. Oriundo do nucleo de pesquisas da UFMG o Dr. Labruna (Dr. Cerqueira Leite) organiza no final da decada de 90 a Colecao Nacional de Carrapatos da Faculdade de Medicina Veterinaria e Zootecnia da Universidade de Sao Paulo (CNC-FMVZ/USP), foi formado ai um novo nucleo de pesquisas com carrapatos como vetores de riquetsias. Entre 2000 e 2012, intensificam-se as pesquisas com uso de tecnologias avancadas: biologia molecular e celular, genomica e proteomica. Alem de pesquisas avancadas visando producao de vacina contra carrapato (UFRGS, UFV, UENFE), novas especies sao descritas (USP e BUTANTAN) e ferramentas como chaves e estudos filogeneticos sao publicados e sequencias geneticas sao depositadas (USP, BUTANTAN e UFRRJ). Nesse periodo o grupo liderado por Salcedo da UFV tambem da inicio as pesquisas com peptidios vacinais e desenha um vacina sintetica (SBm7462) contra R. microplus. Na UNESP Jaboticabal e Rio Claro, em 2004, pesquisas de histologia, fisiologia e patologia de carrapatos (Bechara e Camargo-Mattias) sao desenvolvidas. Em 2009, pesquisadores do Instituto Butantan anunciam uma proteina encontrado na saliva do carrapato que foi eficaz em impedir o crescimento de certos tipos de câncer de ratos em laboratorio e publicam (Onofrio e col.) chave ilustrada para as especies de Ixodes do Brasil e atividade antimicrobiana da cera do ovo de A. cajennense. Chave para ninfas de Amblyomma e publicada por Martins (USP) (2010). Pesquisadores da UFRGS, UENF, UFRJ e UNIFESP formam uma rede INCT- Entomologia Molecular e rede de pesquisas em Imunologia, Bioquimica, Biologia Molecular de artropodes hematofagos. Na UFG Borges lidera pesquisas ineditas no pais na identificacao dos principais compostos utilizados na comunicacao quimica dos carrapatos, incluindo feromonios e cairomonios. Os varios metodos de controle alternativo sao tambem objeto de pesquisas, como homeopatia e nematoides patogenicos (Furlong/UFJF e Embrapa Gado de Leite) e fungos entomopatogenicos na lideranca de Bittencourt da UFRRJ. Aspectos da bioecologia de carrapatos de animais silvestres continuam objeto de estudos do grupo da UFRRJ (Faccini e Famadas) bem como estudos de morfologia das larvas de Amblyomma e variacoes populacionais e R. sanguineus no Brasil (2010). Mais recentemente uma vacina multigenica para R. microplus foi testada a campo por Vaz Jr. e equipe (2012). Nos ultimos anos egressos dos principais centros de pesquisas no pais estao se inserindo nas Universidades e Centros de Pesquisa nas regioes nordeste, centro-oeste e norte. Novos nucleos comecam a desenvolver trabalhos de levantamento da Ixodofauna local, atualizando o registrado na decada de 50-60 e gerando dados sobre agentes patogenicos zoonoticos mantidos na fauna silvestre. As tendencias para estudos futuros parecem apontar para o problema do carrapato dos bovinos ainda na busca de metodos eficazes de controle com menor relacao custo beneficio, como o uso de vacina, pois segundo Grisi (UFRRJ) as perdas para 2003 foram estimadas em 2 bilhoes de dolares; monitoramento da dispersao e ecologia das especies ja assinaladas no Brasil ou registro daquelas introduzidas; compreensao dos mecanismos de transmissao no que concerne a associacao entre microorganismos; estudos de modelagem no que concerne a relacao presenca de carrapatos e risco de transmissao de patogenos causadores de zoonoses; estudos de comportamento e mecanismos fisiologicos importantes como alvos para desenvolvimento de metodos de controle seletivo e etc. Tambem e importante que a formacao de recursos humanos, principalmente aqueles na area de taxonomia, fisiologia, ecologia seja implementado haja vista a grande demanda de especialistas principalmente nas regioes norte, nordeste e cento oeste.
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