A nova classe média e a reconfiguração do mandato endereçado ao sistema educativo

2002; University of Porto; Issue: 18 Linguagem: Português

10.24840/esc.vi18.1529

ISSN

2184-8408

Autores

António M. Magalhães, Stephen R. Stoer,

Tópico(s)

Education Pedagogy and Practices

Resumo

A classe media, que foi o sustentaculo sociologico do fordismo, do keynesianismo e do Estado-Providencia, tem vindo a apresentar importantes alteracoes nas suas estrategias politicas. Entre os anos 1950 e 1970 este estrato social investiu, pelo menos nos paises do centro, numa entente social que lhe permitiu consolidar e desenvolver os seus ‘lugares’ de classe sobretudo em torno do capital social e cultural. O mercado de trabalho com o qual articulava as suas estrategias era-lhe docil, no sentido em que as carreiras familiares e escolares (dos ‘herdeiros’) lhe garantiam ai, a partida, lugares confortaveis e seguros. Com as alteracoes introduzidas pela emergencia de novas formas de producao, distribuicao e consumo, e pelas novas formas de circulacao do capital, o mercado de trabalho, tal como o fordismo e keynesianismo o enquadravam, foi sendo volatizado. Efectivamente, o capitalismo flexivel (ou de casino, como diz Harvey, 1989) introduziu a partir da decada de 1980 um mercado de trabalho fundado na dissolucao das profissoes em competencias. So as competencias sao realmente susceptiveis de um uso flexivel, pois as profissoes sao insustentavelmente ‘pesadas’ com a sua carga grupal (sobretudo sindical) e moral (o percurso do aprendiz ao profissional e um percurso fortemente normativo quer em termos das actividades e gestos proprios das tarefas que constituem a profissao, quer em termos das condicoes eticas da sua execucao). Esta restruturacao do mercado de trabalho em termos de competencias e a emergencia de novos estilos de vida estao a reconfigurar as estrategias politicas da nova classe media (Bernstein, 1990). O capital cultural e escolar, sendo ainda brandidos como arma essencial deste estrato na procura de assegurar os seus privilegios tradicionais no mercado de trabalho e na estrutura social no seu conjunto, sao re-significados no novo contexto. A diferenca parece residir no facto de que presentemente estas estrategias se articulam preferencialmente com a flexibilidade e a aceleracao da circulacao dos capitais e com o mercado de trabalho por elas estruturado. Neste sentido, e tomando como referencia a distincao de Castells (1996) entre ’trabalho programavel’ e’ trabalho generico’, argumentar-se-a que o novo mandato da nova classe media para a educacao tem como objectivo o dominar o mercado do primeiro tipo.

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