Artigo Acesso aberto Produção Nacional

Efêmero Cênico - Eterna Continuidade no Trabalho Trabalho do Ator

2013; School of Communications and Arts of the University of São Paulo; Issue: 2 Linguagem: Português

10.11606/issn.2238-7838..pesquisator.2013.44970

ISSN

2238-7838

Autores

Marlene Fortuna,

Tópico(s)

Arts and Performance Studies

Resumo

A arte do ator, diferente do que muitos supõem, não tem fim. Está atrelada ao Princípio de Continuidade, correspondendo assim à Semiótica de Charles Sanders Peirce. Seu percurso é um trilhar estético em constante mutação. Uma cadeia contínua que não termina, mesmo depois da estreia. A questão se difere com relação à atividade do dramaturgo, que, enquanto produtor de linguagem “fixa, passiva, inerte e surda”, tem seu texto pousado, horizontalmente, nas prateleiras das bibliotecas, sujeito a uma simples leitura até que seja (ou não) vitalizado pelos Poetas de Dioniso. A lida do Errante de Baco é vertical e já nasce morrendo. É efêmera, deslocável, seqüencial e líquida. Assim sendo, temos evanescência para o intérprete e durabilidade para o autor; imediatismo-mediatismo; instantaneidade-espera; presentidadeeternidade, respectivamente. Nenhum artista tem tão plena certeza de que suas operações de “manufatura” são trilhas de volatizações constantes como o ator, portador de um método artístico residido no inacabado. Ele sofre um confronto perturbável com o tempo, sem deixar lugar para o absoluto. Espetáculo pronto, não quer dizer findo, porque o que é cinético, o que é dinâmico e o que está na contemporaneidade de si mesmo, pela própria natureza, está sujeito a modificações permanentes. Ora, o mesmo personagem que energizado estava ontem em cena, hoje, já é outro, porque nós somos também outros a cada dia, em suporte perecível, como a vida. Por outro lado, não estamos nos referindo a fazer uma atuação a cada noite. Isto é caos e tende a enlouquecer o elenco, induzindo a montagem ao naufrágio. Propagamos a reiteração da mesma partitura, com recriações consecutivas. É ser capaz de tornar o “antigo conhecido” em “original desconhecido”. Um jogo! Uma estratégia! Um golpe de mestre! Se há engano certo naquele intérprete que julga ter chegado, na estreia, ao final de seu Processo de Criação, há engano também naquele que entende não precisar de tanto trabalho, de uma vez que sua atividade é fluida. Ao contrário, quanto mais liquidez, mais investimento em estudos, pesquisas de campo e bibliográficas, leituras, exercícios, formação requintada e exaustiva da aparelhagem técnica, da construção de um repertório que dê conta de tamanha volatilidade.

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