Os abismos da suspeita: Nietzsche e o perspectivismo
2004; Volume: 14; Issue: 18 Linguagem: Português
ISSN
0104-6675
AutoresSílvia Pimenta, Velloso Rocha,
Tópico(s)Nietzsche, Schopenhauer, and Hegel
ResumoA tradicao dos comentadores consagrou o termo “perspectivismo” para designar a teoria nietzschiana do conhecimento, geralmente compreendido como um relativismo epistemologico de tipo cetico ou sofistico, segundo o qual as formas de apreensao do mundo variam conforme o ponto de vista. Paralelamente a essa interpretacao e solidaria a ela, o perspectivismo e visto como um fenomenismo que afirma a impossibilidade de atingirmos a realidade por tras de nossas perspectivas. Por mais que essas caracteristicas estejam de fato presentes na reflexao nietzschiana, elas nao dao conta de um aspecto fundamental: pois a radicalidade do perspectivismo nao reside na concepcao epistemologica de que o conhecimento varia de acordo com o ponto de vista, mas no saber ontologico de que nao existe um ponto de vista exterior ao mundo. Como veremos, essas duas formulacoes conduzem a conclusoes bem diversas. O termo perspectiva, oriundo do vocabulario da arquitetura e das artes plasticas, tem uma inequivoca conotacao espacial e visual, como evidenciam as diversas passagens em que Nietzsche estabelece uma analogia entre o conhecimento e a visao. Essa analogia tem antecedentes tao celebres quanto a alegoria da caverna de Platao e a abertura da Metafisica de Aristoteles; mas la onde a tradicao sublinha o carater intelectual da visao, Nietzsche privilegia ao contrario seu carater espacial e determinado. A nocao de perspectiva sugere inicialmente a ideia de relacao ou, mais precisamente, de relatividade: um campo de visao so aparece como tal relativamente a um sujeito — ou, se quisermos abstrair as implicacoes metafisicas do termo, relativamente a algo ou alguem que olha. Conhecer e “por-se em relacao a alguma coisa” 2 , e um conhecimento absoluto e nao somente um
Referência(s)