O significado sexual da sujeira ritual
2014; UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA; Volume: 14; Issue: 22 Linguagem: Português
10.5007/1984-784x.2014v14n22p84
ISSN1984-784X
Autores Tópico(s)Urban and sociocultural dynamics
ResumoA pesquisa etnografica trouxe a luz, e genericamente enquadrado no conjunto de ligacoes por nos conhecidas, o fenomeno da assim chamada “sujeira ritual.” Trata-se de um elemento das cerimonias iniciaticas primitivas sobre cuja natureza formal ja quase nao existe mais duvida: e a proibicao de lavar-se — que pode se prolongar por todo o tempo da permanencia no “lugar sagrado” da iniciacao —, a qual se acrescenta a obrigacao de se untar de cinzas, de fuligem ou de argila. Samter, Propp e outros estudiosos reconheceram nessa pratica a intencao de confirmar com um ato ritual a incognoscibilidade (e num certo sentido tambem a invisibilidade) do neofito, ligada a sua permanencia no Outro mundo. Propp, especialmente, pos em evidencia as sobrevivencias alteradas de tal pratica na tradicao de fabulas populares, mesmo sem chegar a conclusoes decisivas sobre o significado da propria pratica, com base no material folcloricoliterario por ele examinado. Conclusoes semelhantes — e necessario dizer agora — nos procuraremos dar e formular no decorrer desse estudo. E, portanto, necessario que caracterizemos ulteriormente os termos da problematica relativa, dando por conhecidos os documentos etnograficos nao suscetiveis de revisao formal e ja publicados. Consideremos, antes de tudo, se o nao lavar-se esta realmente ligado ao ato de se untar de fuligem ou de argila (e, do mesmo modo, com o pintar-se de preto ou de branco: praticas em clara relacao com a invisibilidade), e, consequentemente, pode ser interpretado atraves de um ponto de vista analogo. Do ponto de vista formal, as duas praticas (nao se lavar, e sujar-se) parecem analogas: assim, poderiam ser consideradas em harmonia e em consolidacao uma com a outra, supondo um significado comum de caracteristicas da
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