A RELAÇÃO ENTRE O PROFESSOR DA EDUCAÇÃO ESPECIAL E DA EDUCAÇÃO COMUM THE RELATIONSHIP BETWEEN PROFESSOR OF SPECIAL EDUCATION AND COMMON EDUCATION
2016; Wiley; Volume: 16; Linguagem: Português
10.1111/1471-3802.12131
ISSN1471-3802
Autores Tópico(s)Business and Management Studies
ResumoEste artigo analisa o trabalho pedagógico desenvolvido entre o professor da educação especial e o do ensino comum ou regular para a concretização do processo de inclusão escolar. Parte-se da legislação que orienta a perspectiva inclusiva da educação especial e de estudos realizados por profissionais da área de educação especial, destacando-se aqueles que foram realizados no âmbito do ONEESP (Observatório Nacional de Educação Especial), em que ressaltam o atendimento educacional especializado e o seu impacto para a promoção da inclusão e do sucesso escolar de todos os alunos, principalmente daqueles com necessidades educativas especiais. A colaboração entre a educação especial e a educação comum, quando é eficaz, beneficia todos os estudantes e também os professores que se sentem renovados e entusiasmados. Estudos têm relatado de um lado, melhorias do desempenho acadêmico dos alunos com necessidades educativas especiais bem como da sua autoestima, de habilidades sociais e relacionamento com os pares e por outro lado, a existência de dificuldades para a realização dessa colaboração. Nesse processo, estudos demonstram que existem obstáculos de diversas ordens como seja a falta de compatibilidade de horário entre esses dois grupos de docentes, o número elevado de alunos para o atendimento educacional especializado, a inadequada formação profissional, pouca inserção no projeto politico pedagógico da escola dentre outros. Em suma, é fundamental que sejam criadas nas escolas condições necessárias para a prática da articulação entre esses dois grupos de docentes, para que o trabalho pedagógico seja desenvolvido como parte da gestão escolar e da relação com a família. This article analyzes the pedagogical work of the teacher of special education and the teacher of common education to carry out the process of school inclusion. It starts from the legislation and the studies for special education's professionals, that guides inclusive perspective of special education highlighting those that were conducted under the ONEESP (National Observatory for Special Education), that highlight the specialized educational support and their impact in promoting inclusion and academic success of all students, especially those with special educational needs. The collaboration between special education and common education, when it is effective, benefits all students and also teachers who feel renewed and excited. Studies have reported the one hand, academic performance improvements of students with special educational needs as well as their self-esteem, social skills and relationships with peers and on the other hand, the existence of difficulties in the realization of this collaboration. In this process, studies show that there are obstacles of various orders such as the lack of compatibility of time between these two groups of teachers, the high number of students for specialized schooling, inadequate training teacher and little insertion in the pedagogical political school project, among others. In summary, it's necessary to be created in schools necessary conditions for the articulation between these two groups of teachers, for what educational work be developed as part of the school management and the relationship with the family. A atual política nacional de Educação Especial na perspectiva da educação inclusiva no Brasil define como lócus preferencial do atendimento educacional especializado – AEE, as salas de recursos multifuncionais – SRM. Essas salas cumprem o papel de promover o atendimento educacional especializado na escola comum, utilizando materiais pedagógicos, equipamentos e recursos de acessibilidade, que auxiliem na promoção da escolarização dos alunos público alvo da educação especial, eliminando barreiras que impedem a sua plena participação, com autonomia e independência, no ambiente educacional e social. O público alvo da educação especial definido pela legislação compreende o aluno com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação (Alves et al., 2006). A prática do professor da SRM para ser efetiva requer a perspectiva colaborativa com o professor da educação comum visando desenvolver um trabalho conjunto para que seus objetivos específicos de ensino sejam alcançados, compartilhando um trabalho interdisciplinar e colaborativo. A finalidade do trabalho de cada professor é diferente. Ao professor da sala de aula comum é atribuído o ensino das áreas do conhecimento, e ao professor do atendimento educacional especializado - AEE cabe complementar/suplementar a formação do aluno com conhecimentos e recursos específicos que eliminam as barreiras as quais impedem ou limitam sua participação com autonomia e independência nas turmas comuns do ensino comum (BRASIL, 2009). O professor de AEE acompanha a trajetória acadêmica de seus alunos, no ensino comum, para que atuem com autonomia na escola e em outros espaços de sua vida social. Para tanto, é imprescindível uma articulação com o professor do ensino comum. De acordo com o Art. 2°, da Resolução n°04/2009, a função do AEE, é complementar ou suplementar a formação do aluno público-alvo da Educação Especial, através dos serviços, recursos de acessibilidade e elementos que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de aprendizagem. Art. 13- São atribuições do professor do Atendimento Educacional Especializado: ……. VIII - estabelecer articulação com os professores da sala de aula comum, visando à disponibilização dos serviços, dos recursos pedagógicos e de acessibilidade e das estratégias que promovem a participação dos alunos nas atividades escolares. Art. 9° A elaboração e a execução do plano de AEE são de competência dos professores que atuam na sala de recursos multifuncionais ou centros de AEE, em articulação com os demais professores do ensino regular, com a participação das famílias e em interface com os demais serviços setoriais da saúde, da assistência social, entre outros necessários ao atendimento; e A estreita articulação do trabalho docente entre o professor do AEE e o professor da sala de aula do ensino comum irá refletir na construção de um bom ambiente de ensino-aprendizagem e fundamental para a promoção da inclusão e do sucesso escolar de todos os alunos, principalmente daqueles com necessidades educativas especiais. Para que a inclusão escolar ocorra é necessário que a escola comum ofereça para os alunos condições favoráveis, sendo necessárias modificações na sua estrutura, principalmente no que diz respeito ao oferecimento dos serviços da Educação Especial na escola e na classe comum. Essa articulação ganha mais importância na medida em que, na concepção inclusiva, os alunos estão juntos na mesma sala de aula e a articulação entre os docentes deve ocorrer em todos os níveis e etapas do ensino. Correia (2003) defende que, para a concretização da filosofia inclusiva, o papel do professor da escola comum deve conciliar-se com o papel do professor de educação especial, com o dos pais, para que todos eles, em colaboração, possam desenhar estratégias que promovam sucesso escolar. De acordo com as Diretrizes Operacionais da Educação Especial para o Atendimento Educacional Especializado na Educação Básica, publicada pela Secretaria de Educação Especial - SEESP/MEC, em abril de 2009 – Resolução n°04/2009), o Projeto Político Pedagógico – PPP da Escola deve contemplar o AEE como uma das dimensões da escola das diferenças. Nesse sentido, é preciso planejar, organizar, executar e acompanhar os objetivos, metas e ações traçadas, em articulação com as demais propostas da escola comum. Nos últimos anos, o Ministério de Educação, através da SECADI (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão) vem promovendo a ampliação do AEE nas escolas comuns, através da implantação de salas de recursos multifuncionais – SRM, sendo um imperativo a compreensão por parte dos professores e profissionais da educação sobre a função do AEE e sua relação com a sala comum. Nesse contexto, este artigo busca responder a questão: Como os professores estão realizando esse trabalho conjunto, tendo em vista a inclusão do aluno? Para isso, pretende-se caracterizar a articulação que vem sendo realizada nesse universo escolar, da rede de ensino do município de Salvador e compreender como está sendo realizada a articulação entre os professores, para atender os dispositivos legais sobre a implementação do atendimento educacional especializado (AEE). Este artigo resulta de pesquisa realizada no âmbito do ONEESP – Observatório Nacional de Educação Especial, no Estado da Bahia: estudo em rede nacional sobre as salas de recursos multifuncionais nas escolas comuns, do qual a Bahia participou. O estudo foi norteado por uma abordagem qualitativa, conduzida por meio do grupo focal, discutindo três eixos: a formação docente, a organização da sala de recursos multifuncionais para o AEE e a avaliação das necessidades educacionais especiais dos alunos atendidos nessas salas. O grupo focal teve a participação de oito professoras de SRM, de oito escolas da rede de ensino do município de Salvador. Para nortear a discussão foi utilizado um roteiro com questões, propostas pelo grupo de pesquisadores que compõem o ONEESP (ONEESP, 2010) para disparar a discussão de cada um dos eixos, e, para este estudo foi realizado um recorte das questões que se referiam a articulação entre os professores envolvidos no processo de inclusão do aluno com deficiência, atendidos na SRM. A discussão realizada no encontro foi gravada, depois foi transcrita e posteriormente realizada a análise das informações, produzidas, pelas professoras durante a discussão no grupo focal. Para garantir o sigilo dos sujeitos participantes do grupo focal, foi atribuído como legenda a abreviatura SRM, correspondendo a sala de recurso multifuncional, seguida das oito primeiras letras do alfabeto que correspondem a cada uma das professoras participantes (A, B, C, D, E, F, G, H). A função da Educação Especial é de complementar e suplementar a formação do aluno com NEE, portanto é imprescindível uma articulação com o currículo da sala comum, cabendo, então, uma reflexão sobre a relação entre o ensino da sala comum e o atendimento educacional especializado – AEE prestado pela educação especial. Nessa perspectiva, a construção do conhecimento do aluno com NEE, enquanto tal é responsabilidade da sala comum e deve ser articulada com o AEE, por meio de um trabalho em conjunto. […] uma das grandes dificuldades da gente na escola não são os nossos alunos especiais, […] são os nossos colegas de trabalho que não trabalham em conjunto conosco. Muitas vezes os nossos alunos eles perdem muita coisa porque nós não temos esse feedback dos nossos colegas. Os nossos colegas acham que o nosso trabalho com o nosso aluno é brincadeira. Que os meninos vão pra lá para brincar no computador. Porque acham que o menino não tem capacidade de fazer nada. (SRMG) Nesse relato fica claro que a professora da SRM sente que os colegas da sala comum não valorizam o seu trabalho e que desconhecem até o objetivo e funcionamento do AEE. O fato dos professores não participarem de momentos formativos conjuntos dificulta ainda mais a interação entre os mesmos, pois o conhecimento sobre a Educação Especial fica restrito aos professores da SRM, sendo frequente que o aluno seja visto como responsabilidade do professor especializado, pois é ele quem participa da formação e, portanto conhece sobre o assunto. Em alguns casos, o professor da sala comum demonstra resistência em interagir com o professor da SRM. […] por enquanto eu não tive esse problema de falta de diálogo com o professor, porque a gente trabalha muito assim “linkado”, assim eu trabalho muito assim, tem aluno que é cadeirante, tem outro aluno que tem dificuldade auditiva então a própria necessidade do aluno faz com que eu tenha que trabalhar colado mesmo com o professor (SRMB) O AEE não tem um caráter de aulas de reforço e não é substitutivo da sala comum, a atribuição do professor do mesmo é trabalhar a necessidade específica do aluno, promovendo os métodos e recursos necessários no contexto pedagógico. Sendo assim, a relação do currículo entre ambas as salas é assegurada através de flexibilização do currículo, recursos e metodologias, onde o professor do AEE tem a habilidade de elaborar suportes e estratégias que propiciem ao aluno superar sua dificuldade em assimilar, acompanhar e se desenvolver no currículo escolar, estendendo essas adaptações para a sala comum. A gente, como eu te falei a gente faz um levantamento diagnostico, tem um roteiro de atividade diagnostica e ai a gente vai analisando ali, é tudo sobre o desenvolvimento do aluno […] depois a gente faz uma avaliação diagnóstica desse aluno, agente constrói um estudo de caso em cima desse aluno e depois que eu já vi, fiz o estudo de caso que já sei o problema aí vejo como está o desenvolvimento dele psicomotor,[…]depois que eu tenho isso tudo na mão, quais são as necessidades dele aí eu construo o plano de atendimento pra esse aluno, então a gente faz a avaliação diagnostica em cima da diagnostica agente planeja o atendimento de acordo com o que ele precisa aprender.(SRMB) […] E qual o tempo que eu vou ter pra observar o aluno na sala regular o tempo que eu vou ter pra realizar o atendimento, o tempo que eu vou ter pra fazer o planejamento e a produção do material então eu tenho que fazer uma agenda semanal que me dê condições de tá atuando, atendendo essas demandas e diante dessa agenda eu normalmente por dia uma média de cinco alunos distribuído três pela manhã e três ou dois à tarde, ou vice e versa, ou grupo de alunos em média atendo por dia cinco ou seis alunos (SRME) Dependendo da necessidade […] tem alunos que precisam de uma maior estimulação a depender do caso, então agendo mais vezes dois ou três atendimentos semanais, então aumenta o número de atendimento pra cada aluno, cada um vai variar de acordo com a sua necessidade. (SRMA). É você tem que identificar como diz na função do AEE você tem que identificar a dificuldade o que é que o professor tá trabalhando na sala regular eu tenho que saber o que aquele aluno ta tendo dificuldade de acesso aquele currículo, então eu vou atuar em cima da dificuldade que ele tá tendo pra ter acesso aquele currículo […](SRMF) A dificuldade, eu ainda acho pra mim a dificuldade de contato que eu tenho com as colegas eu ainda acho difícil são as adaptações das atividades para o aluno na sala (SRMH) As professoras se preocupam em planejar para definir mecanismos que facilitem a sua atuação no trabalho pedagógico com o aluno. Essa preocupação de viabilizar uma estratégia para a organização do atendimento educacional especializado tem como base a subjetividade do professor e a peculiaridade de cada aluno, que mesmo com deficiência semelhante apresentam formas distintas de aprendizagem. (Ropoli et al., 2010). Acontece, acontece sim, a gente senta junto tem um momento, quer dizer o momento é a gente que busca…mas lá a gente se encontra mesmo fora da escola nosso horário… aí a gente combina … eu vou pra lá pra sua sala…eu digo vamos sentar aqui agora, aí a gente faz algum rabisco rapidinho e ela me passa o que tá trabalhando qual a dificuldade dele está tendo, dificuldade nisso, nisso e nisso, aí eu vou desenvolver.(SRMH) Nem todos, a gente faz assim, eu faço sempre discussão, agora mesmo eu tô fazendo discussão com os professores, mostrando pra eles o meu trabalho, o que eu faço, eu levo pra os AC (atividade complementar, espaço de reunião de professores da escola) e apresento pra os professores da sala comum e eles vão trocando e a gente vai trocando e vamos fazendo esse intercâmbio e aproveito pra fazer avaliação o que é que eles tão achando desse resultado da função da sala de recursos e até o momento eu tenho percebido que é bastante positivo as respostas dos professores.(SRMA) Os depoimentos citados permitem concluir que não existe um momento de planejamento sistemático e como parte do Projeto Político Pedagógico da Escola, em que exista um tempo para que os professores e profissionais da educação estabeleçam relações permanentes entre suas atividades pedagógicas, com a finalidade de promover uma interação e desenvolvimento do aluno na escola, os próprios professores articulam discussões em tempos programados por eles. (…) Aquele aluno que tem o déficit maior, ele falta na sala regular ele falta na sala de recursos, aqueles alunos que tão ali na sala no dia a dia não tem dificuldade de você ir não. […] (SRMH) Eles dependem de alguém levar, então tem uma frequência irregular.(SRME) Lá na minha escola a frequência também é equivalente, se ele faltar na sala regular ele também falta no atendimento, mas eles tem demonstrado bem presente, a falta eles justificam quando vão precisar faltar, normalmente as mães ligam.[…](SRMF) Foi possível notar que existe uma associação entre a frequência do aluno na sala comum e na sala de recursos e o seu desempenho escolar. Dessa forma, as professoras SRMH e SRMB, apontam que os alunos que possuem maior necessidade de atendimento são os que mais faltam, e também ressaltam um elemento importante que justifica a frequência irregular dos alunos, a necessidade de companhia para leva-los até a escola. É a função do AEE, ela se diferencia da sala comum porque a função dela já traz mesmo na legislação. É bem claro a função que é identificar, elaborar, organizar recursos pedagógicos de acessibilidade que eliminem as barreiras para a participação desses alunos e a classe comum, ela tem a função de promover o desenvolvimento integral da pessoa com ou sem deficiência nos aspectos sociais, afetivos […] (SRMF) O AEE dá suporte à classe comum, complementando, adaptando, apoiando os alunos. Para buscar atividades diferenciadas para se aproximar das atividades de escolarização; Contribuir para a escolarização deles (aprender as atividades em sala de aula). (SRMH) […] Que agora assim só lembrando que o trabalho de complementação não é um reforço é assim, o professor tá dando vogais lá e eu vou reforçar aqui as vogais não é isso, é um trabalho de complementação em outra área, o professor vai ensinar as vogais lá e eu até posso trabalhar com esse tipo de material, mas a minha intenção é chegar é estimular em outras coisas.(SRMB) Podemos apreender que as professoras têm clareza do que não deve ser o AEE, mas não conseguem expressar com precisão a especificidade desse atendimento. Art. 59: Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais: […] III – professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; […] Eu tenho ainda dificuldade de trabalhar por conta da minha formação, que eu ainda não recebi uma formação, só palestras, mas uma formação mais especifica voltada pra superdotação e altas habilidades, eu ainda não participei de nenhuma formação […] eu ainda não me acho preparada pra atual eu ainda preciso mais formação preciso investigar mais e ter um aluno e conhecer o aluno, porque eu ainda não tenho o aluno com altas habilidades eu preciso conhecer esse aluno pra está estudando e verificando as possibilidades de desenvolver as atividades com ele[…]. (SRMI) Eu também, eu tenho mais segurança hoje, agora deficiência auditiva eu não tenho segurança pra trabalhar ainda com ele, eu não tenho, eu já tomei vários cursos, vou procurar tomar outros. (SRMD) Nessa perspectiva, as professoras declaram a necessidade de uma formação continuada para atuar no atendimento a alunos com necessidades educacionais especiais, além de reafirmar a relação entre a teoria e prática como requisito para proporcionar-lhes a capacitação e segurança para trabalhar com diferentes tipos de deficiências, sendo assim é necessário que os professores estejam qualificados para atender as peculiaridades apresentadas pelo aluno. […] Eu acho que as dificuldades, os limites são justamente que eu já tinha falado antes, que uma pessoa só para dar conta de todas as deficiências é muito difícil. É muito complicado você saber exatamente o que fazer com cada pessoa, com cada deficiência, saber exatamente tudo. Tudo não, mas assim ter um conhecimento amplo de todas as deficiências. Isso é o mais difícil. (SRMB) As professoras se queixam da complexidade de sua atuação, pois têm que atender alunos com diferentes tipos de deficiência e, não se sentem preparadas para promover um trabalho qualificado nesse campo de atuação diversificado. Essa situação confirma que a formação docente tem sido um campo de polêmicas, sem um consenso ou diretriz que oriente essa formação. A falta de compatibilidade na organização dos horários dos professores do ensino comum com os de educação especial, que permita envolve-los em trabalho de colaboração tem sido um obstáculo apontado em diversos estudos, como limitação para a interação entre os professores devido as condições de trabalho propostas pelas escolas (Hargreaves, 1998; Milanesi, 2012; Miranda et al., 2014; Oliveira, Apoluceno and Rabelo, 2014). Esses estudos demonstram que existem dificuldades de diversas ordens para um trabalho conjunto entre os professores, além de considerar o número elevado de alunos com NEE para atendimento e a inadequada gestão escolar. Conforme pode ser averiguado nas falas das professoras, elas reconhecem que o serviço prestado não é suficiente, e que o ideal seria uma rede de apoio, uma equipe multidisciplinar, mais profissionais e serviços, apontando assim para outras possibilidades O elevado número de horas de trabalho destinado ao atendimento ao aluno é uma limitação também referida por Miranda et al. (2014) e que na generalidade das reuniões de trabalho, cuja agenda contém pontos relativos à coordenação das atividades letivas, apenas se procede à entrega do planejamento elaborado pelos subgrupos responsáveis e ao controle da progressão no programa, não se assistindo a um momento efetivo de diálogo e partilha de experiências. Estudos como os de Cardoso e Tartucci (2014) ressaltam a necessidade de reestruturação do modo de definir os horários dos professores pela direção das escolas, de modo a que os professores do ensino comum que tenham nas suas salas de aulas alunos com necessidades educativas especiais, possam definir com os professores de educação especial momentos de trabalho em articulação no planejamento construção de materiais e em espaços com condições para o efeito, como defende Hargreaves (1998), quando afirma que uma maior sensibilidade e flexibilidade por parte dos diretores das escolas na gestão educacional podem certamente aliviar alguns dos seus efeitos indesejados. Para este investigador compete aos órgãos de gestão das escolas proceder a alterações nas estruturas de organização da escola, de modo que facilite o desenvolvimento de práticas colaborativas entre os professores. Os resultados desta investigação permitem concluir que o trabalho de articulação desenvolvido entre os dois grupos de docentes ainda está em construção, porque, de um modo geral, não há uma sistematização do trabalho de articulação e não há previsão no Projeto Político Pedagógico da escola. Além disso, a maioria dos docentes do ensino comum não dominam os aspectos pedagógicos nem a concepção sobre alunos com necessidades educativas especiais e de inclusão escolar e demonstram pouca disponibilidade e falta de tempo para a realização de trabalho em equipes multidisciplinares. Também, esses docentes do ensino comum continuam a revelar alguns constrangimentos na realização da articulação. Esses constrangimentos manifestam alguns receios em relação a todo este processo de mudança, especialmente porque sentem que lhes falta a formação necessária e adequada para lidar em sala de aula com os alunos com NEE, principalmente quando não dominam as especificidades desses alunos, como também refere Correia (2008). Nesse processo, a escola pouco muda e a SRM, ao mesmo tempo em que é o local responsável pela escolarização dos alunos público alvo da educação especial, serve para manter a escola em sua “normalidade”. Na SRM, o aluno vai complementar os seus estudos e o professor tem total liberdade sobre o que e como fazer e não precisa prestar contas sobre o desenvolvimento do aluno. A articulação entre os professores do ensino comum e especial depende apenas da boa vontade de ambos, e as condições de organização do serviço conspiram contra essa parceria, seja porque um atua no contra turno do outro, seja porque eles trabalham em escolas diferentes e, mesmo quando eles trabalham na mesma escola e no mesmo período, suas atividades conflitam com as possibilidades de encontro (Milanesi, 2012). A implementação de uma dinâmica de trabalho colaborativo e diferenciado deve ser tida como o motor para a inclusão dos alunos com NEE, pois existem evidências de que as escolas em que predominam culturas colaborativas são mais inclusivas, isto é, apresentam menores taxas de evasão e formas mais efetivas de resolução de problemas dos estudantes. Em síntese, a implantação da educação inclusiva tem encontrado limites e desafios que podem ser constatadas pela inadequada formação dos professores e de capacitação para atender às necessidades educacionais especiais tanto na SRM como na sala comum. Há muito que ser conquistado e garantido, principalmente quando se refere a fragilidades no processo de inclusão escolar: na garantia de formação continuada dos professores que atuam no AEE, no trabalho colaborativo, praticamente inexistente e no processo do trabalho pedagógico desenvolvido pelos professores, uma vez que uma parte dos alunos atendidos por essas salas, de acordo com o depoimento desses professores, não têm suas necessidades plenamente atendidas. As declarações das professoras demonstram o esforço para efetivar um trabalho pedagógico de qualidade na sala de recursos multifuncionais em situações muitas vezes adversas, devido a pouca inserção desses serviços no projeto político pedagógico da escola, a inadequada qualificação profissional para o exercício das funções atribuídas ao professor da SRM, ao grande número de alunos para atendimento e as diferentes necessidades pedagógicas desses alunos o que acarreta insatisfação dos professores e compromete a qualidade do AEE prestado ao aluno. As reflexões apresentadas neste artigo permitem evidenciar a consolidação da inclusão escolar como diretriz política para a educação baiana, mas as normas e documentos legais que orientam a estrutura dos serviços não estão plenamente em ação, sendo necessários mais estudos e pesquisas sobre a necessidade de requalificação do AEE prestado nas salas de recursos multifuncionais para que haja um possível redimensionamento de suas atribuições. Em forma de conclusão, e tendo em conta a importância do trabalho em articulação para inclusão e o sucesso das aprendizagens, principalmente dos alunos com NEE, é fundamental que sejam criadas nas escolas todas as condições necessárias à prática da articulação entre esses dois grupos de docentes, para que o trabalho de articulação que é desenvolvido essencialmente em sala de aula, quando existe possibilidade de o professor de educação especial lá estar, seja também realizado fora da sala, para a planificação, criação de materiais e avaliação de modo mais efetivo e eficiente. I declare that there is no conflict of interest author for publishing to this article.
Referência(s)