
Dossiê de Entrevistas: quatro décadas de independência
2015; Universidade de São Paulo - FM/USP; Volume: 1; Issue: 27 Linguagem: Português
10.11606/va.v0i27.108241
ISSN2317-8086
AutoresRejane Vecchia Rocha e Silva, Ubiratã Souza,
Tópico(s)Urban and sociocultural dynamics
Resumoano de 2015 registra uma data com dupla importância.A data se refere às exatas quatro décadas de independência de Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde.A dupla importância se refere ao fato de, por um lado, essa data marcar o golpe mais substancial às configurações imperialistas de Portugal no mundo, e, por outro, encerrar um processo de emancipação política que varria o continente africano desde a independência do Gana em 1957.Com efeito, com exceção dos casos da Namíbia, do Saara Ocidental e do Sudão do Sul, cujas independências precisaram ou precisam ocorrer a partir de dominações internas do continente, depois de 1975, ao menos na forma do estatuto político, nenhuma potência europeia dominava mais algum território em África.A data exige reflexão por parte dos cientistas humanos.Como avaliar essas quatro décadas de consolidação da "África dos Estados", na acertada expressão de Elikia M'Bokolo?(2011: África Negra: História e Civilizações, Tomo II, p. 649) Sabemos que o surgimento de uma consciência emancipatória em África foi acompanhado de uma tomada de consciência em todo mundo colonizado, que conseguiu jogar luzes sobre o quanto exploratório e desumano foi o colonialismo ligado ao imperialismo (nas suas diferentes formas de ocupação) a partir do século XIX.Esse processo teve em seu bojo a avidez de despir as ciências humanas dos latentes traços imperialistas que lhe caracterizaram desde suas formações no século XIX e XX, e, neste sentido, todas as áreas do conhecimento humano foram afetadas: a antropologia, a história, a linguística, os estudos literários, a geografia, todas essas ciências, hoje, podem receber o epíteto "colonial", quando nos referimos à sua prática em certo período da história.Esse processo de nudez do caráter imperialista das ciências humanas pode hoje ser chamado, a propósito, de "descolonização dos saberes".Ora, se um processo científico de tamanha monta, a descolonização dos saberes, se desenvolve em paralelo a um processo político de igual tamanho, a emancipação política do mundo colonial, com tamanhas e evidentes imbricações, que efeitos haverá sobre as ciências humanas essas quatro décadas de independência política e de descolonização prática dos saberes?Quer dizer, inúmeros institutos, centros de pesquisa, departamentos, programas de pós-graduação, de inúmeras
Referência(s)