Artigo Acesso aberto Produção Nacional Revisado por pares

ENTRE SILÊNCIOS E SUSSURROS: A QUESTÃO DO ACESSO À INFORMAÇÃO SOBRE O ‘LOUCO’, UMA ANÁLISE DOS PRONTUÁRIOS DO HOSPITAL PSIQUIÁTRICO DE JURUJUBA

2016; SciELO; Volume: 3; Issue: 1 Linguagem: Português

10.21728/logeion.2016v3n1.p64-79

ISSN

2358-7806

Autores

Asy Pepe Sanches Neto, Marcia Heloísa Tavares de Figueredo Lima,

Tópico(s)

Race, Identity, and Education in Brazil

Resumo

Buscando identificar os aspectos informativas de prontuários de pacientes internados por motivações sociais no Hospital Psiquiátrico de Jurujuba em 1953 e de concepções foucaultianas sobre a construção da ‘loucura’ e do ‘louco’ na sua forte relação com modelo de sociedade, esta pesquisa indagou: se a loucura é uma construção social, que na modernidade implicou em segregação, qual a função do documento médico nesse processo? Espera-se que apresentem um conteúdo informativo sobre as doenças (viés informativo). Mas os prontuários daquela instituição não apresentaram-se informativos sobre a loucura. O conflito entre um esperado viés informativo do documento e os nossos resultados levou a proposta de que faz-se necessário um exame mais holístico do valor político e social do documento médico. Propõe-se um exame mais ampliado do documento, enquanto materialidade recortada de determinado acontecimento, com função de modelação e controle, dentro de um dispositivo maior de verdade: o conhecimento e as instituições médico-científicas. O acesso à informação sobre os pacientes, se consequência de um processo de organização eficaz de conjuntos documentais em arquivos médicos, inicia-se pela escrita sobre o paciente que age como sentença (interne-se ou dê-se alta), mas há um silêncio sobre as práticas médicas de tratamento, pelo menos no período e na instituição investigada, que torna o sujeito internado objeto de práticas indescritíveis. Ao final da pesquisa conclui-se que aqueles documentos sobre o louco têm, pelo menos, três vieses passíveis de análise: o da autoria da escrita; o do objeto da escrita, e o viés institucional, ou sobre como o documento institui em alguns casos, na nossa sociedade, relações de poder. Um quarto viés que atravessa todos os outros, o do regime burocrático no qual estamos inseridos e que, por algum motivo, precisa passar pelo caminho do documento para cristalizar o seu poder.

Referência(s)