História da alimentação na Antiguidade Clássica: os primeiros livros de culinária
2011; Coimbra University Press; Volume: 54; Linguagem: Português
10.14195/0872-2110_54_4
ISSN2183-7260
Autores Tópico(s)Food, Nutrition, and Cultural Practices
ResumoIntrodução: a 'arte culinária' Datam dos sécs.V e IV a. C. os mais antigos Livros de Culinária (ὀψαρτυτικὰ βιβλία).Sinal evidente da autonomização atingida pelos conhecimentos e técnicas de preparação e confecção dos alimentos e respectivos agentes (os cozinheiros) é não só a produção de literatura especializada, mas também a inclusão desse saber específico entre as 'artes' (epistemai) e 'ofícios' (technai) da humanidade.Porque a reflexão teórica sobre o papel da alimentação e dos seus artífices no universo das actividades humanas nos dá conta de um contexto histórico propício ao aparecimento dos primeiros tratados dedicados à arte de cozinhar, comecemos por considerar as primeiras ocorrências escritas até nós chegadas do conceito "arte da culinária".Devemo-las a Platão, mais concretamente a dois passos, um d' A República, outro d' O Político.Em ambos os textos se reconhece a existência de um 'saber específico' do cozinheiro (o mageiros), justamente designado pela junção do sufixo-ikos à raiz do nome da actividade, processo pelo qual se obtém o adjectivo µαγειρικός, -ή, -όν.N' A República (332c 12) fala-se de τέχνη µαγειρική; n' O Político (289a 4) de µαγειρικὴ ἐπιστήµη, substantivo que se subentende da fala anterior (em que ocorre a expressão βασιλικῆς ἐπιστήµης 288d 6).Mais do que discutir o sentido filosófico da categorização da culinária como episteme, techne ou empeiria ('prática' e não 'arte', com se lê em Górgias 500b), à presente investigação importa destacar que é nos textos platónicos que encontramos a primeira individualização da "arte da culinária" como uma das especializações em que o ser humano se foi aperfeiçoando (medicina, justiça,
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