O vinho na Lusitânia : reflexões em torno de um problema arqueológico

1998; Volume: 1; Issue: 1 Linguagem: Português

ISSN

0874-2782

Autores

Carlos Fabião,

Tópico(s)

Horticultural and Viticultural Research

Resumo

Partindo do pressuposto, consensualmente aceite, de que a grande difusao da vitivinicultura no ocidente peninsular decorre da conquista romana, verifica-se que as fontes literarias greco-latinas sao de escassa utilidade para uma boa caracterizacao da geografia da producao e dos ritmos cronologicos da sua introducao e expansao. Em face das omissoes dos autores antigos, somente pela investigacao se podera aceder ao conhecimento do que foi a difusao da producao vitivinicola no territorio hoje portugues, na Antiguidade. No entanto, ha diversas questoes que dificultam uma boa visibilidade arqueologica destas actividades e que sao brevemente enunciadas. Por outro lado, a investigacao nao logrou ate hoje reunir um conjunto significativo de dados; e os poucos disponiveis, nao estao isentos de duvidas e interrogacoes. Assim, procura-se esbocar um panorama da historia do vinho na antiga provincia romana da Lusitânia, de um ponto de vista do consumo, isto e, tentando chegar a uma caracterizacao da problematica, atraves das ânforas que foram usadas no transporte do vinho, sua cronologia, volumes de circulacao e geografia da sua distribuicao. No estado actual dos conhecimentos, parece aceitavel supor que tera existido producao de vinho em zonas do sul, ainda em epoca pre-romana. No decurso da conquista pelos exercitos de Roma (seculos II e I a.C.), o nosso territorio foi sobretudo importador de vinho italico. A partir da segunda metade do sec. I a.C. multiplicam-se os indicios das importacoes peninsulares (provenientes das futuras provincias da Tarraconense e da Betica, com vantagem evidente para esta ultima), uma tendencia, alias, bem conhecida em outras regioes do Imperio. Na segunda metade do sec. I d.C. declina significativamente o grande comercio do vinho, o que parece constituir um bom indicio da plena afirmacao da vitivinicultura em praticamente todas as regioes do Imperio Romano, incluindo, naturalmente, a Lusitânia. O consumo passa a ter um caracter fundamentalmente local/regional, embora se tenham continuado a produzir ânforas para transporte de vinho. As cidades e os grandes centros industriais de transformacao do pescado parecem ter sido os principais nucleos receptores deste novo comercio, por representarem as maiores concentracoes de consumidores, as primeiras, por manifesta inaptidao para um cultivo e fabrico local, as segundas. O aparente retorno do grande comercio de vinho, fundamentalmente de origem Oriental que se verifica no Baixo Imperio (a partir do sec. IV) podera ter ja razoes que se prendem com os novos contextos do consumo, estabelecidos com a cristianizacao do Imperio

Referência(s)