Armadilhas do open-access
2016; Convergences Editorial; Volume: 15; Issue: 3 Linguagem: Português
10.33233/fb.v15i3.332
ISSN2526-9747
Autores Tópico(s)Science and Science Education
ResumoNão se passa semana sem receber convites para publicar em uma revista científica eletrônica, especializada em um domínio hiperespecífico do saber humano. Acredito, amigo leitor, pesquisador, professor e assinante, que recebe mais propostas para publicar ou revisar, porque eu, simples editor, não participo de pesquisa nenhuma...Inspirado por essas propostas extravagantes, John Bohannon, jornalista da renomada revista Science, tive a ideia de enviar um (falso) artigo sobre uma molécula ativa contra o câncer, assinado pelo (falso) professor de biologia Ocorrafoo Cobange do (falso) Instituto Wassee de Medicina de Asmara (Eritreia) [1]. Apesar de erros elementares, que poderiam ser detectados por um aluno de colégio, o artigo foi aceito por mais de 150 revistas, geralmente sem nenhuma avaliação ou revisão, incluído por editoras prestigiosas.Esta experiência, que não é a primeira, é a consequência da corrida para a criação de novas revistas científicas – milhares delas apareceram nestes últimos anos no mundo tudo – e da pressão para publicar. O open-access e a divulgação generosa e gratuita do saber científico podem ser no futuro mais um problema de que uma solução.O fator de impacto, método de classificação das revistas pelo número de citações em outras revistas, é um sistema de avaliação que deveria limitar essa proliferação e favorecer as melhores revistas, mas é também bastante criticado. Aliás, algumas revistas brasileiras, e não das piores, foram acusadas no ano passado de desenvolver um sistema de citações cruzadas para aumentar artificialmente este famoso fator e foram temporariamente excluídas da avaliação. Entretanto, esse autocontrole não resolve muita coisa se o objetivo é melhorar a qualidade da ciência brasileira: neste ano 2014, o melhor fator de impacto foi obtido por uma revista brasileira sediada em Londres, publicada por editor alemão, que edita artigos internacionais dos quais 10% são genuinamente brasileiros.A corrida para a visibilidade internacional não pode se substituir ao dever de casa, que é de promover a qualidade dos projetos e resultados de pesquisas.
Referência(s)