
“TUDO QUE VEMOS É OUTRA COISA”. SUBJETIVIDADE E REAL NO FAUSTO DE PESSOA
2016; Volume: 8; Issue: 15 Linguagem: Português
10.11606/issn.2175-3180.v8i15p89-101
ISSN2175-3180
Autores Tópico(s)Psychology and Mental Health
ResumoA figura de Fausto e seu vínculo com o demônio é tema longevo, remontando suas primeiras aparições ao Novo Testamento, associável que é a Simão, o mago. Acompanhá-lo como tema nas muitas retomadas de que é objeto pela literatura de ficção interessa quando se pensa que, através dele, podem-se observar as mudanças operadas na relação entre o divino e o humano, entre o mundo natural e o sobrenatural, entre bem e mal. O ponto de virada nestas abordagens pode ser identificado na versão de Fausto de Christopher Marlowe, escrita em finais do século XVI, na qual se lê Mefistófeles a afirmar que o inferno é, na verdade, onde estamos. Alguns séculos mais tarde, Fernando Pessoa contribuiria para aprofundar significativamente a imagem esboçada por Marlowe – e depois, em certa medida, desenvolvida por Goethe – ao deslocar o problema de Fausto para o campo da existência subjetiva. Enquanto em algumas versões antigas o personagem era fisicamente dilacerado pelo demônio ao ter sua alma arrebatada em cumprimento do pacto, o Fausto de Pessoa é desde sempre um dilacerado de alma, alguém atormentado pela consciência aguda sobre os limites da consciência, para quem é inútil desejar saber mais quando se sabe que tudo no universo é absolutamente limitado, finito, a começar pela condição de cada um como indivíduo, a de ver o mundo exterior a partir de um olhar interior, subjetivo, insuficiente para abarcar qualquer totalidade e, ao mesmo tempo, saber que o exterior inexiste. Este artigo procurará aprofundar a complexa contribuição de Fernando Pessoa para o tema ao conduzi-lo para a problemática da subjetividade e seus vínculos com o real.
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