
Núcleo Original da Freguesia do Ó – São Paulo (SP): o valor dos bens culturais e as territorialidades cotidianas
2015; Volume: 9; Issue: 2 Linguagem: Português
ISSN
1982-9760
Autores Tópico(s)Urban Development and Societal Issues
ResumoOs grupos de sujeitos exercem multiplas territorialidades cotidianas. Trata-se de um processo marcante do urbano contemporâneo, impondo-se a totalidade da sociedade. Tais territorialidades expressam elementos simbolicos que constituem a vida: da historia e memoria as manifestacoes culturais, expressas em posturas, gestos, indumentarias, encontros, festas e demais especificidades das praticas sociais. E imprescindivel destacar que o cotidiano dos grupos sociais traz a tona escolhas e possibilidades que sao influenciadas pelo poder do dinheiro. O consumo de mercadorias, lugares e situacoes tambem sao processos simbolicos, como discute Zukin (2000) ao tratar do consumo visual do espaco e do tempo. Considera-se, portanto, a imbricacao entre as dimensoes economicas, sociais, politicas e culturais do espaco geografico (CORREA, 2012). Como salienta Sahlins (1997), a cultura e o fenomeno unico das acoes e da experiencia humana, em que pessoas, relacoes e coisas manifestam-se como valores e significados. Coadunando com essa perspectiva, as territorialidades nos fornecem uma pista do modo como os sujeitos atribuem valor ao espaco. Podemos nos remeter, entre outros processos, a valoracao de bens culturais materiais – centros historicos, edificacoes, monumentos historicos, pracas, vias publicas, entre outros exemplos que constituem parte do acervo do patrimonio cultural. Consideramos que tais bens, por vezes reconhecidos pelo sistema normativo por meio de acoes como os tombamentos (FONSECA, 2005), nao possuem valor simbolico inerente e sim valores atribuidos pelos grupos sociais (MENESES, 2000). Por este esse motivo, nos dedicamos a compreensao das territorialidades manifestadas no Nucleo Original da Freguesia do O como forma de interpretar o legado de seu tombamento pelo Conselho Municipal de Preservacao do Patrimonio Historico, Cultural e Ambiental da Cidade de Sao Paulo (Conpresp) por meio da Resolucao no 46 de 1992. Esta resolucao e seus estudos previos elencam os valores historico, urbanistico, arquitetonico, ambiental e afetivo do bairro como justificativas para o tombamento, envolvendo um conjunto de ruas, edificacoes e, destacadamente, os Largos da Matriz Velha e Nossa Senhora do O, onde esta situada a Igreja de mesmo nome, e um conjunto de bares, restaurantes e areas publicas. Em pesquisas desenvolvidas recentemente, valendo-nos de uma metodologia qualitativa e da aplicacao de entrevistas semiestruturadas, buscamos em expressoes como jogos, esportes, festas, encontros de familiares e amigos e no consumo em estabelecimentos comerciais, desvelar os valores simbolicos que os Largos Nossa Senhora do O e Matriz Velha possuem para moradores, visitantes e transeuntes. Assim, a luz das territorialidades atuais no Nucleo Original da Freguesia do O, este trabalho pretende apresentar os resultados de nossas pesquisas em dialogo com as justificativas elencadas pelo Conpresp para o referido tombamento. Destacando trechos das entrevistas aplicadas, nossa proposta e discutir elementos que coadunam com tais justificativas, bem como aqueles que as transcendem atraves das constantes (re) significacoes que envolvem as praticas socioespaciais e os bens culturais tombados. Tendo em vista a relevância de interpretar o patrimonio cultural por meio das vivencias e dos viventes (MENESES, 2012), buscaremos tratar a atualidade desses bens culturais tombados, com foco nos usos atribuidos pelos grupos sociais.
Referência(s)